terça-feira, 29 de julho de 2008

um dia só

Entre um dia e outro
Chove um mar
Nasce um conto.

Poucas horas se passam
Como se fossem inteiras
Ali nascem
Num repente
A semente e a colheita.

Entre um dia e outro
Cabe uma ida
Ao fundo de tudo
Onde passa uma vida.

Cada minuto acolhe
Um convite à partida
Rumo ao outro dia
Entrada e saída.

domingo, 27 de julho de 2008

fluxogramas

Às vezes preciso parar de inventar versinhos. Pra escrever uma ou outra história, com o claro intuito de explicar pra mim mesma os complexos fluxogramas que a vida me apresenta.
O drama pode começar com uma vontade. Sabe aquele que todas, repito, todas querem? No começo eu achava que ele era só amiguinho mesmo. Um livro daqui, um email dali. Enfim, um dia a coisa se esclarece. E a merda acontece.
Até aí, tudo tranqüilo. Mas eu tenho essa mania de escrever. Mania não, é uma necessidade. E tudo, absolutamente tudo que acontece na minha vida, pode virar um poema. Ou uma história. E assim foi, usei a inspiração trazida pelo tal moço pra fazer uns versinhos. E só. Só? Só seria muito pouco. Mandei um email, com os versinhos. Antes de apertar no “send” pensei: - Putz, certo que o cara vai achar que eu to apaixonada. Mas eu não estou. Embora eu tenha dito a ele que poderia me apaixonar. Isso é óbvio. Sempre é possível se apaixonar. 50% de chance. Normal. Só que eu não to apaixonada. Curti o cara. Muito mesmo. Mas é isso. Na verdade eu não lembro de todos os detalhes e isso me incomoda um pouco. Seria preciso um repeteco pra eu não deixar escapar nada. É bem possível que além de não responder, ele se afaste de mim, com medo da maluca que se apaixonou e mandou uma poesia. É, ele vai achar isso. Seguramente vai ficar pensando: “- Cara, que mulher pirada. Foi só uma vez. E a louca me mandou uma poesia. Louca, pirada, insana.” Acho que talvez o cara tenha razão. Eu devo ser maluca mesmo. Eu é que sei que tudo me inspira. Que já escrevi poesia inspirada por uma corrida de táxi. Escrever, tudo bem, mas mandar? Oh, céus. Que dúvida. Ele não vai me responder. Por outro lado, mesmo no susto, o cara é tri vaidoso. Vai adorar saber que fiz uma poesia inspirada nele. Ele é do tipo consciente. Sabe que é poderoso. Massagem no ego. Quem não gosta? E mandei.
Esperei a resposta um dia ou dois. Depois parei. Essa tormenta mental, que cria fluxogramas complexos, é só uma desculpa. Eu realmente gosto de presentear, e não me importo se o outro, sabe receber.

sábado, 26 de julho de 2008

rever

Aqui no frio, sem internet, aproveito pra repensar um tema que há dias passa na minha cabeça. Há pouco terminei de assistir, pela segunda vez, o filme “Beleza Roubada”. E concluí que não é o mesmo filme que assisti há mais de dez anos.
É aí que entra meu tema, que não tem apenas um nome, mas pode ser resumido em “rever”. Filmes, idéias, crenças, medos, sonhos, esperanças, fantasias, lembranças...
Cheguei à conclusão de que um segundo olhar é imprescindível. É preciso ver. E rever. Uma, duas, muitas, várias vezes. Porque o olho é deficiente. É limitado.
Não se enxerga tudo de uma só vez. A vida vai apresentando novas nuances a cada momento. Num piscar de olhos, muda, como o vento. Por isso a necessidade de treinar os sentidos. Ou então a gente esquece de ver a vida, deixa passar, e não enxerga, o que acontece!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

realizando

Todo dia te vejo
ventam horas gritando
por lembrar todos os beijos
Roubados no escuro
numa sala de desejo.

Tropeço na razão
Me atiro no abismo
Sei que é em vão.

Balanço na corda
Procuro a porta
Que me leve pra fora
Desse labirinto falido
Surgido assim
meio bandido.

Sei do final
E corro o risco
Sou visceral.
Aguardo atenta
Mais um sinal.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

cabritinho

Cabritinho se esconde
No topo da montanha
É preciso viajar
Para encontrá-lo.
Mas quem lá chega
Leva o prêmio
Sem choro
Nem barganha.

dia de santo

Era sábado
Perto do almoço
Esbarrei no santo
Aquele do moço.

Entrou sem licença
Invadindo os panos
Da minha cabeça.

Achei que o santo
Devia ser meu
Amigo e cúmplice
Nas breves passadas
Da chuva no céu.

Eis que então
Veio de longe
Na mesma tarde
Onde o pudor
Não se esconde.

Fica a idéia
De andar de trem
Descendo a ladeira
E com sorte
Na chegada
Ter como prêmio:
Banho de cachoeira.

terça-feira, 22 de julho de 2008

profecia

Sempre tem um dia
Em que revirada a cama
É cumprida a profecia.

De saliva e vontade
Arrancada do sono
Do que era saudade.

Na brancura dos panos
O escuro escondia
Um futuro incerto
cheio de danos.

Dormente de sol
A alma aquecida
Promete o som
Da profecia atendida.

domingo, 20 de julho de 2008

SOMANDO

Prefiro as somas
Às diferenças.
O contato
Ao recato.

Bato o pé pela vida
beijando-a todos os dias
como as mães aflitas
que morrem de medo
de ser esquecidas.

Se sorrio na terça,
E a luz se acende
Repito na quinta,
Minha dose de gente.

Recolho minhas armas
Deste breve combate
Sem tiros nem mortes:
Apenas tumulto
De espadas com sorte.

Aguardo então
Calma
sem sobressalto
O próximo passo
De salto alto.

domingo, 13 de julho de 2008

Ainda não aprendi
Qual o som de um jogo
Com ganho no amor.
Como apurar o ouvido
Pras notas de valor?

Palavras cruzadas
Silêncios prolongados
Fico esperando
sou cão acuado.

Não consigo vestir
Escudo protetor.
Dispo-me sempre:
Mostro minha cor.

Esqueço a dor
De todos os tombos
Rasteiras e socos
Que tenho levado
Na espera do amor
Que está encantado.

etnereocni

Já houve um tempo
Em que Sagitário
Cobrava-me coerência.

Com sua frieza de eqüino
Não suportava que eu
Era pura inocência.

Ventos passados
Caminhos desviados.
No atropelo e na calma
Aprendi a aceitar
Minha natureza
De quem só vive de alma.

Alimento demônios
Com doces e sonhos
Arroz, feijão e alguma pitada
De uma qualquer
pimenta inventada.

Vejo bolhas de sabão.
Desmanchando-se
Rápidas, incolores
Sumindo no chão.

Derramo lágrimas
Como quem vê o jornal
Mas não lê suas páginas.

Sim, sou toda incoerente.
Hoje me alegro:
Sinto-me gente.



quinta-feira, 10 de julho de 2008

indiferente

Quem entende
Pessoas que só aparecem
Quando a gente não atende?

É possível explicar
Que doçura
raramente
tem lugar?

Indiferença
Alimenta vontades
Aumenta a aposta.

E quase sempre é a resposta.
A perguntas nunca feitas
Na hora certa.

É ela quem deixa
A porta entreaberta
Pra quem só entra
Se não enxerga
Nenhum sombra
Nenhuma fresta.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

removendo

Cansei de cortar o cabelo.
De dizer: “só as pontinhas!”
E sair quase nua
Sem pêlo.
Mas é preciso limpar
O lixo que se forma
(na cabeça)
E que te torna
Um depósito de nada.
Coisa sem forma.
Já não crio plantas
Pra não ter que arrancar
Folhas mortas.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

descrevendo

Já disse e repito: é pra não arrancar meus próprios cabelos que escrevo.

Escrevo quando já não cabe em mim uma dor que dói nem sei porquê.
Escrevo porque as palavras que saem de mim, lavadas em tristeza, são como a chuva que precisa chover, pra aliviar a tensão, que entre as nuvens, vi crescer.

Escrevo pois não sei esperar. Sou o tipo que enquanto espera, pára de respirar. E enquanto escrevo, deixo o ar entrar.

Escrevendo faço um carinho em mim mesma, dou-me tapinhas nas costas, me consolo do vazio e da melancolia, que enchem alguns dos meus dias.

Escrevo porque me apavora o tempo, que veloz e rasante, me paralisa qual cimento.

Escrevo pra lembrar, e escrevo pra esquecer. Lembrar o que é bom e lembrar que nem tudo passa. Esquecer? O que não passa.

Escrevo porque são as palavras minha tinta, não sei pintar, mas sei que dor se pinta.

Escrevo pra enxergar o que ainda está por vir, pra me ver de fora, e saber o que passei e o que senti.

Pra refrear o impulso suicida de quem só sabe se jogar de olhos fechados, no colo incerto da vida.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Um dia acaba
A sina de passarinho
Que vive de migalhas
Mas nunca enche seu ninho.