terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Mais uma promessa de ano novo
Sempre aqueles votos
De que tudo mude
Que seja melhor.
Cada ano
É um brinde à esperança
Embora a gente saiba
Que não vai haver
tanta mudança.
Então desejo
Pra mim
e pra todo mundo
Que o ano que vem
preserve o que já temos de bom.
Que sejamos capazes de aceitar
o que já foi conquistado:
Prêmios, abraços, amigos, espaço.
Desejo que o novo ano
seja a continuidade
das coisas lindas que começamos.
E que o ano que vem
deixe uma brecha
pro novo
pro lugar que ele tem.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

dezembro / derradeiro

Dezembro derradeiro
Derramando finais
Fechando portas
Lendo sinais.

Dezembro que termina
Todo ano.

Dezembro é uma mina
De planos.

Dezembro não caminha
Só sabe voar.
Te empurra pra alegrias
Te obriga a pensar.

Meu dezembro começou
Insone e curioso
Pontuando linhas
Terminando minhas frases.

Dezembro rompendo
Me livrando de pesos
Treinando meus dedos.

Derradeiro dezembro
Jamais será esquecido
Pelos dias estranhos
Parecendo em dobro:
Um filme no ar.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Espiando no escuro
Idolatrando um ídolo
Agora partido.

Repasso planos
Sonhos rompidos.

Já sei das festas
O final.
Corpo embriagado
Refúgio moral.

Tem lugar na minha cama
Pro bem
E pro mal.

Dividida na espera:
O doce do amor
Ou a putaria sincera?

sábado, 14 de novembro de 2009

Então, o que me inspira?

Uma foto feliz
De um final de semana
Que criou raiz.
Pra depois apodrecer
E virar adubo
Pra outra planta crescer.

Pequenices do dia
Caminhadas distraída
Esquecendo do salto
Silenciando a batida.

Uma música antiga
Com cheiro de mofo.
Sabor de um tempo
Em que se abraçava o vento.

sábado, 7 de novembro de 2009

garoa não é tempestade

Garoa não é tempestade
Molha aos pouquinhos
Pela metade.

A mim encantam as chuvas fortes
Que em poucos minutos
Alagam a cidade.

Já sei o que sinto
Deve ter sido a idade.
Nada de nuvens
Cobrindo a vontade
Não me engano
Na minha saudade.

Se desvio o caminho
Dou meia volta
Não faço de conta
Que estava na rota.

Teatro, gosto no palco.
Não fujo de mim:
Sei onde arde.

Meu desejo é vivo
Pede um beijo
No fundo da alma
Com toda verdade
E nenhuma calma.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

garimpo. em homenagem a F.

Recolhida
Espreitando os dias
Antenas ligadas
Nas palavras não ditas.

Feito bicho à procura
Do melhor momento
Pra fazer sua busca.

Alimento escondido
Disfarçado de lixo.

Garimpar é preciso,
Me disse um amigo.

Achar entre as pedras
Algo precioso
Que valha a busca
Sem perder o compasso.

Preciso de pausa
Pra vencer o cansaço
Fazer novos caminhos
Aprender outros mapas
E no final da viagem
Ser encontrada.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

devagar

Coincidiu a primavera
Com o romper do dia
Em que a raiva
Perdeu pra alegria.

Deve ter sido o anúncio
Lampejos de calor
Que desfez o gelo
Em pequenas gotas de humor.

Memória de vozes
Agora tão distantes
Admirando o desamor.

Mudanças. Lentas. Brandas.
O fim de comer a vida a mordidas.
É tempo de sorver
Temperos suaves
Colheradas calmas. Espaçadas.

Fim do tempo.
Da pressa.
E da falta de esperança.
Nova estação, novas lembranças.


sábado, 10 de outubro de 2009

isso é deus (uma resposta aos ateus)

Inesperados
São os melhores encontros
Quase beijo roubado.

São pequenos recados
Mandados por Deus
Sinais de simplicidade
Um abraço da vida
Em quem tava com saudade.

Saudade do calor do sol
Do olho brilhando de novo
Por pequenos regalos
Mas cheios de recheio.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

aparecendo

Afastando as cobertas
Descobrindo flores
Revelando nuances
Que estavam escondidas
Causando rumores.

Em algum momento
Abre-se a cortina
E quem aparece
É também menina.
Exalando fortaleza
Zombando dos fracos
Exibindo certeza.

Queria esconder
Sua face mais branda
Seu sentir que transborda
Besteiras irracionais.

Vai parar de criar regras
Pra cessar o transgredir.

domingo, 4 de outubro de 2009

give peace a chance

Estou fazendo as pazes comigo
Não posso ficar
No papel do meu inimigo.

Acabei acatando
Meia dúzia de erros
Ficados lá atrás
Fazendo peso.

Vou perdoar
Desejos frustrados
Sonhos rompidos
Amores errados.

Minha vida
Não decido sozinha
Depende do giro
Do dia e da graça
Pra onde caminha.

Amanhã tem abraço
Crianças, churrasco.
Vai ter festa no almoço
E de sobremesa,
Doce de coco.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

setembro, já era

Não foi a força do sol
Nem a limpeza da chuva.
De repente
Nada se escuta.

Grilos falantes
Agora calados
Cansados talvez
Morreram de enfado.

Numa piscada
Saiu o cisco
E o machucado do olho
Já está resolvido.

Se foi
Assim como chegou
Causou alvoroço
Mas setembro
Acabou.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Se já não sabemos
Se sonhamos
Ou vivemos
Como fazer agora
Pra não nos perdermos?

Vida vira labirinto
Erramos o rumo
E só vemos a sombra
Em cada canto que surge.

Onde ficamos?
Cadê nossas verdades
Identidade
Vontade?

Até o fogo apagou
Antes tão vivo
Sempre tão forte
Disposto a tudo
Que matasse a morte.

Esquecer
É o que queremos.
Pular esta etapa
Em que sumimos de nós.

no relento

Buscando distração
Ando pela rua
Olhando pra cima
Ouvindo do topo das árvores
O canto do passarinho
Que surge como recado
De quem saiu do seu ninho.

Saiu o passarinho
Em seu vôo ligeiro e certo
Atrás de minhoquinhas
Que leva coladas ao bico
Até ficar satisfeito.

Mas um carro na rua
Desperta minha tensão
E lá se vai embora
Qualquer tentativa de distração.

Perdi a conta
De quantos vi passar
Azuis, amarelos, cor de baunilha.
Antes não os via
Também antes
Não sentia.

Saudade que é quarto escuro
É espreita de movimento
Espera de sons estranhos
É ficar no relento.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

uma fresta na porta

Deixei uma fresta na porta
E espero
Meio tonta e com a luz torta
Uma nota de resposta
Que não desejo por palavras:
Desejo sim
Um sopro
Um rompante
Arroubo calado
Linguagem do corpo
Que sabe que não é tarde.

Deixei uma fresta na porta
E aceito a poeira que entra
Misturada ao ar mais fresco
De uma qualquer aurora.

Deixei uma fresta na porta:
Se entrarem
Estarei pronta.

domingo, 27 de setembro de 2009

pé na porta

Pra quê carregar tanto orgulho?
Pra exibi-lo na hora errada
Como presente sem embrulho?

Porque aceitar o peso
Que a beleza externa
Te propõe?

Semelhança de aparências
Proporção de estruturas.

E o louvor às diferenças
Era só uma desculpa?

O segredo mais bonito
Precisa ficar escondido?

Derrubei a porta:
Mandei embora
Tudo que sufoca.

sábado, 26 de setembro de 2009

ir, vir, devir

Em quem você pensa antes de dormir?
Como você faz pra explicar
O que não consegue não-sentir?
O que fazer pra espantar um som
Que já não se pode mais ouvir?
Será possível controlar os impulsos
Que se mostram mais fortes que o devir?
No fim,
A chuva leva
A chuva lava
Todo resto de saudade
Que te cospe na cara.

domingo, 20 de setembro de 2009

Jerusalém


chiclete no asfalto

Somos todos bonequinhos
Girando meio tontos
No éter do espaço.

Sem perceber
Nos fundimos:
Chiclete no asfalto.
Aderimos à superfície
E nos integramos ao cimento.

Prolongo a noite
Memória guardada na carne
O corpo repete o ontem
Mas agora
É tarde.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

sem sofrimento não há poesia

Casa com a fantasia
E morre chorando
Acredita que a dor
Inspira seu mundo.

Sem sofrimento
Não há poesia.

Ninguém acorda
Do lado virado.

Apega-se ao fim
Deleite de melancolia.

Faz da angústia
Sua maior alegria.

Encontra as amigas
No boteco da esquina
Brincam com as taças
Bebem suas vidas
Sentem que aquele
É o último dia.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

time to say...goodbye

Ao contrário da maioria das pessoas, eu gosto de despedidas.
Elas finalizam ciclos, conversas, viagens, amores, partidas.
Quando criança, minha mãe não me levou aos enterros dos parentes que foram morrendo.
E durante anos, eu via minha bisavó andando pela casa.
Afinal, nunca nos despedimos, de modo que, pra mim, ela continuava viva.
A boa intenção de minha mãe criou em mim essa necessidade de ver o final da vida, de encerrar o que já não existe de forma solene.

Assim, peço aos que me puderem atender: não me privem do adeus.

lentidão

Presa ao que foi
Pés fincados no tempo
Que ainda não passou.

Me demoro nos escombros
Bagunçados da memória
Não esqueço a violência
Tampouco a gloria.

Queria ter alma de passarinho
Que esquece o vento
Assim que chega ao ninho.

Sou filha da terra
Crio raízes.
Mesmo quando termina
Não encerra.

domingo, 13 de setembro de 2009

quase retratos

Como bom cabritinho
Que primeiro precisa subir a montanha
Pra só então apreciar a paisagem
Folgo no fim
Pra escutar as letras
Que brotam enfim
Acordando fluidas
De dentro de mim.

É o momento em que brilho
Sinto os poemas
Como meus filhos.

Frutos de mim
Cópia infiel
Do que sou aos pedaços
Pequenas memórias
Quase retratos.

um pirulito pra memória

Não demora a partir
A poeira que veio colada no vento.
Retorno do sorrir com os olhos
Pra quem me vê
Adeus da dor no sentimento.

O calor dos amigos
Pedaços de vida em forma de gente
Dissipou as mazelas dos dias de antes.

Novas porteiras
Abrindo-se sem pretensão
Abrindo calmaria
No meio do furacão.

Apago os borrões
Da memória recente.
Lembrarei de meus amores
Macios e doces
Como o colo da mãe da gente.


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

quem planta ira...

Não quero mais escutar
Playboyzinho revoltado
Porque o amiguinho
Pisou no seu quadrado.

Nem menino reclamar
Que a comida da mamãe
Não tem paladar.

Cansei de adolescente
Que só fala de si
Não sabe escutar.

Masturbação emocional
Resume-se nisso:
Não consegue penetrar.


Reclamar não soluciona problema
Não enche a geladeira
Só faz de ti mais um dilema
Que deixo na soleira.

mar aberto

É de sentido que vivo
No corpo inteiro:
Dor no peito
Desarranjo de emoções
Não aprendi o meio
Percorro o todo
Um emaranhado
Tormento
Inundado.

Não aprendi a paciência
É hoje que estou.
Amanhã não importa.

Minha chuva sempre
Tempestade
Alaga o dia
E até a cidade.

Desconheço as cercas
Ainda que tantos os arames
Onde já me espetei.
Sou primária no que levo.

Mergulho em mar aberto
Sufoco, às vezes.
Mas nunca me afoguei.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

"it's all over now, baby blue"

Quem deixa de amar
Não manda recado.

Foge da hora
Em que a boca se abre
Pra derramar a verdade.


Não anuncia que agora
Vai seguir outro rumo.


Acabado o encanto
Faz-se silêncio.
Quem deixa de amar
Se afasta sem ponto

Não termina a frase
Não escreve bilhete
Deixa de lembrança
Vácuo e sede.


domingo, 6 de setembro de 2009

paralisada

Paralisada
Sufocada de tristeza
Amor que se esvai
Derramado na mesa.

Evito a fuga:
Deixo livre o curso das lágrimas
Que correrão em meu rosto
Calmas e plásticas.

Coração troteava
Rasgando meu peito
Fiz tremendo
O que nunca tinha feito.

Bem pertinho ela estava
Verdade doída
Do lado de casa.

Fui atrás dos meus olhos
Ainda tontos
Pra entender que o rumo
Era outro.


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

no fundo do mar

Não parece favorável
A conjunção astral
De repente tudo ficou travado
Suspenso em algum plano
Soando irracional.

Dias úmidos
Incertos
Um inferno glacial.

O mundo girando ao revés
Retrocesso
Pausa para o mal.

Energia dispersa
Desentendimento
Perda de sentido
Vontade submersa.

Quisera agora o mar
Afogar-me por instantes
Privar meu ouvido
Do som da terra
Mergulhar no azul
E boiar pra esquecer
Que quem está vivo
Erra.

de cheio e de som

Queria levar meus dias
Qual manhã nublada
Deixar a cabeça mais leve
Envolta em fumaça.

Deixar pra trás
Meus penduricalhos
Travas fechadas
Barreiras de mim
Alma cerrada.

Vou fechar os olhos
E viver de cheiro.

Calar minha boca
E me alimentar de som.


quarta-feira, 2 de setembro de 2009

os primeiros 30

Tiro férias pra trabalhar
Mesa cheia
De livros e letras
Me esperando pra acordar.

A cama me puxa
Nesta manhã chuvosa.

Ainda sinto as bolinhas
Do espumante
Deslizando na garganta
Quase sem pesar.

E lembro daqueles olhos tão pretos
Me sorrindo sem parar...

Comemoração memorável
As balzacas reunidas
Trocando confissões
Estraçalhando os pequenos
Vibrando com os grandões.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

amanhã, outro dia

Então está mentindo
Quem nunca passou
Um dia de pijama
Sem banho
Acordando e dormindo.

Tentando esquecer
Os tormentos que a vida
Não cansa de trazer.

As soluções existem
Isso é certo.
Embora demorem
Um dia chegam perto.

Enquanto isso
Vale abrir a janela
Respirar o dia
Cuspir pela sacada
Os restos de agonia.

Vale ler jornal velho
Conversar com plantinhas
Chorar no ombro de um amigo
E rir da melancolia.

Pode acreditar:
Amanhã
É outro dia.

sábado, 22 de agosto de 2009

lua minguante

Esta noite quando saí na rua
Dava pra ver
O lado escuro da lua.

Minguante ela estava
Só um risquinho
Parecia um sorriso
Limpo, branquinho.

Ironia do dia
Em que não só a lua
Mostrou que às vezes
O brilho se oculta.

Respingos de cólera
Lembram do escuro
Quando faz a sua hora.

Hoje a lua se fez pequininha
Como meu coração de menina
Que cansa de ser boazinha.

domingo, 16 de agosto de 2009

era uma vez...

Abandonei a ilusão do controle
Vou passar os meus dias
Sem sentir fome.

Se o sol brilhar
Aproveito a luz
E se por acaso chover
Abro o pink da minha sombrinha
E faço da chuva
Uma amiga querida.

Ontem já passou
E a memória que fica
É de algo bom.

Vou colecionar os pedaços
Fazer o meu álbum
De belos retratos.

Cultivando o espaço
Revolvendo a terra
Arejando o terreno
O silêncio
Não erra.



sexta-feira, 14 de agosto de 2009

sexta-feira, 14

Peço às letras um socorro
Mais uma vez
Não sei o que sinto
E não sei se corro.

Uso então
De algumas palavras
Que mostrem o rumo
O caminho de casa.

Impossível sorrir
De noite e de dia
Nos momentos sombrios
Fico mais fria.

Então penso
No sorriso de Luiza
Que hoje vem me abraçar
E com seu olhar mais doce
Transforma tempestade
Em brisa.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

novos mundos

Um mundo é pouco
Preciso também
Do horizonte dos outros.

Saber o que vêem
Como escutam
O que comem
Por que labutam.

Conhecendo o estranho
Passa ele pra mim
Agora também é meu
É ciclo sem fim.

Vendo a novidade
Desperto mais um pouco
Do que sou
É mais uma peça do jogo.

Vou juntando os pedaços
Espero que nunca fique pronto.

kinderovo

Que importa o tempo?
Um ano ou dez dias:
O amor é rebento.

Nasce de uma só vez
Mostra-se todo
Basta enxergá-lo
Como as caravelas
Que os índios se acostumaram
A ver
Tendo sob os pés
Areia fofa e amarela.

O tempo
Às vezes
Não existe.

E quando pesa
É pela demora
Em passar
Mais uma noite acordada
Sabendo da euforia
Da manhã que chega
Cheia de preguiça.

O amor que arrebenta
Porque rebento
Aparece de surpresa.

É presente deixado
Sem intenção
No canto da mesa.

Quais olhos divisam
A beleza deixada
Por certo pra mim
No fim da festa?
Agora
Acabou a tristeza.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

o sol brilha. isso é suficiente.

Pois hoje que amanheceu tão nublado
Não daria pra imaginar que o sol surgiria
Por todos os lados.

No meio da tarde peguei carona
Com um velhinho que sabe
Que em breve,
Parte.

Contou-me uma história
A sua verdade
Por medo de ir
E ficar esquecido
Escreveu um poema
Um pouco sofrido.

Achei uma graça
Ouvir declamar
O motorista
Do carro de praça.

agonizante

Eu, mulher, sou feita de agonia
A espera do que quer que seja
É aflição, é sangria.

Como suportar
Até que cheguem respostas
Só no outro dia?

Minha alma fêmea
Inveja a calma dos machos
Do seu futebol
Parceria e churrascos.

Mulher agoniza
Pelo que já foi
E por tudo que virá.

Posso falar por mim
Que ainda faço força
Pra não sair pela rua
Gritando sem parar.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

i'm ready

Ainda antes da inspiração
Vem o encanto
Banhado em admiração.

Contemplar longamente
Vendo imenso e belo
O amor da gente.

Já houve tempo
Em que olhava
E lá nada havia
Meu olhar desviava.

Agora existe
Nova porta
Ou quem sabe janela?
Por onde enxergo
Som que me comove
Me derrama
Absorve.

Primavera antecipada
Vou sorvendo as flores
Inesperadas
Matinais
Musicadas.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

o inverno de 2009.

É só do que se fala
Nos vestiários
Ante-salas
Banheiros
No trabalho:
O inverno
Está de matar.

Mata minhas vontades
Apaga minha luz
Me deixa aqui congelada
Chorando um blues.

Fujo do banho
Que nem criança
Que só quer passar
Pelo calor da infância.

Minha morada
É câmara fria
Nunca aquece
Nem de dia.

Pouca coisa me esquenta:
Um Toddy quentinho
LP em fase lenta.

Se o frio
De fato
Conserva
Vou viver 200 anos...

terça-feira, 21 de julho de 2009

um pulinho no inferno

Não me imagino com um par
Sem um rastro de dor.
Lençóis sem manchas de vida
Não cabem na minha cama:
Preciso ver despudor.

Embalagem violada
Bolachinha começada
Já andei meio caminho
Não fico na calçada.

Não me vejo com um par
Que não tenha passado
Alguma tragédia
Mágoa ardida
Que não tenha passado o inferno
Pra ficar do meu lado.

domingo, 19 de julho de 2009

depressão de inverno

Nunca leio alto
O que registro no espaço.
Talvez por medo
Que o som do poema
Faça dele verdade
Ou se perca.

Assim como eu
Que ando sem mim
Falando em voz baixa
Do inverno sem fim.

Deve ser o só o frio
E os dias nublados
Que levaram embora
Meu pedaço de sol.

Reviro as cobertas
Prefiro o sonho.
Não quero acordar
Enquanto for cinza.

sábado, 18 de julho de 2009

mais um dia de frio

Hoje não engoli
Minha dose de realidade
Finjo que o sol
Brilha na cidade.

Dos dias nublados
Quero apenas a saudade
Lembrar que só às vezes
O frio me invade.

Empurro a solidão
Pra algum canto da casa
Não quero mais lembrar
Da aparência opaca
Do meu rosto
Nos dias de ressaca.

Vou esquecer
O que não existe
Histórias sem razão
Agora deixo o silêncio
De resposta pra paixão.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

mais um poema de amor

Tenho cultivado esse amor
De noite quando paro
De dia quando falo
(e também quando calo).

Não quero dividi-lo
Não porque fosse assustá-lo
Apenas porque é meu
E sendo assim
Prefiro guardá-lo.

Alimento o bichinho
Procuro em Bandeira a razão
Molhada em melancolia
Encontro em Pessoa vazão
Pro resto da fantasia.

Faço lindo meu amor
(bem mais do que seria)
É como um cactus:
Quando bem tratado
Amanhece em flor.

domingo, 12 de julho de 2009

anel de benzeno

Quero rasgar as lembranças
Poucas
Quebrar toda a louça
Limpa e branca.

Deixar de sentir
Aborrecimento
Pela ausência
Da fantasia do momento.

Vou interpretar
Outro papel:
Moça malvada
Que não pensa
Sai pra rua
De saia rasgada.

Romantismo barato
Ferida mexida
Até o bagaço.

Amanhã
Vou abrir a janela
Vão entrar
Passarinhos
Que eu não via
Nem ouvia cantar.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

o olho brilhou

Deixo-me sugar pelo tempo
Ouvindo ensurdecida
Tuas palavras no ventre.

No meio do show
Aproveito a música
Pra trilha sonora
Da minha mistura.

De beijos e cheiros
Que me povoam
O rosto.
Não disfarço
(nem quero)
O brilho no olho.

Sem planos
Nem papéis
Sem pensar amanhã.
Mordo cada dia
Um pedacinho
Da manhã.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

cruzando a ponte

Tenho andado
Feito disco velho
Arranhado.

Toda noite
Repito o refrão
Parece mantra
Sem meditação.

Aproveito as pausas
Pra buscar diversão
Tento brincar
Que o sim
Agora é não.

Ou pra passar
Por cima da ponte
O sol brilhando na tarde
Com alma de fotógrafo
Que pensa na imagem
E não bate.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

na memória

Tudo bem
Reconheço
Foi capricho
Mimo
Mais um adereço.

Que não combina comigo
Embora tão bonito!
Não sei bem porquê
Eu queria usar
Ainda que nada ficasse bem
Não formava par.

Agora é deixar pra lá
Mais um recuerdo
De enfeite
Apenas da memória.

sábado, 27 de junho de 2009

vai passar

Quando acordei hoje
Lembrei que ontem
Consegui dormir sem pensar
Nos teus olhados estreitos
Ficando pra trás.

Boa parte do dia
Dediquei à família.
Passei bem
Sem de ti me lembrar
Embora um vazio
Não me deixasse aquietar.

Mas quando chegou a noitinha
Senti que ainda
Estava em ti
E sozinha.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

pacote

De tempos em tempos
Perco meu centro.
Fico pensando
Empacada
Jogada num canto.

Sinto que demoro
A reagir.
Mas muda o vento
E resolvo:
Contas, tormentos.

Não pago mais
Por excessos.
Brigo pelo que ainda acho
Que parece certo.

Medos, dúvidas
Decepções
Incertezas.
O que fazer com tudo isso?

Mastigar,
Várias vezes.
Aceitar
Que fazem parte
Do pacote.
Nem sempre completo.

domingo, 21 de junho de 2009

vai saber? (letra de adriana calcanhoto)

Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de mudar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor
Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha do que duvidar
Pensando bem, pode mesmo
Chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber?
Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de se dar
E pode aparecer onde ninguém ousaria se pôr
Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha o que considerar
Pensando bem, pode mesmo
Chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber?
Vai saber?
Vai saber?
Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de jogar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor
Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não venha a reconsiderar
Pensando bem, pode mesmo
Chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais...

sábado, 20 de junho de 2009

adeus insólito

Depois de uma noite
De longa mirada,
Algumas palavras
E muita fumaça
Encobriram mistério.
Desceu do carro,
Veio me dar um abraço,
Cheirou meu pescoço,
Beijou-me o rosto
E se foi...

escondidos

Foram alguns
Amores escondidos
Daqueles que não se fala:
Sussurros no ouvido.

Sempre o medo
Do barulho de chave na porta
Era honesta
Ainda que torta.

Já não há mais espaço
Pra amor solto
Sem laço.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

post mortem

Já faz mais de um ano
Que te escrevo versinhos
Românticos, bobinhos.

Parece que entraste
Com força e humor
Em parte do meu papel.

Sugando minha tinta
Ficas por aí
Sorrindo
Fazendo fita.

Que não ata o nó
E me escapa.
Também não desata o pó
E me engasga.

Então me vens
Com uma suposta surpresa
Prometendo contar-me
Pessoal e entre dentes.

Tento escapar
Do sonho que insiste
Martelar sem parar.
Será que, enfim...?

Curiosidade mata mais
Que apenas o gato
É prato pra dias
Bem gordo
E farto.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

amanhã

Já tirei todo lixo
Arrumei os armários
Casa limpa
Sem ratos.

Desfiz os enganos
Retirei a peneira
Que fingia servir
De escudo pra cegueira.

Mesmo das roupas
Ainda bonitas
Precisei abrir mão.
Pra deixar espaço
Pros vestidos de festa
Que usarei no verão.

Agora
Bebo aos mortos
Amanhã
Sempre é melhor.

domingo, 14 de junho de 2009

prato raso

Não faço macumba
Pra amarração
Nem tomo sopa
Em prato raso.

Sempre tenho
Guarda-chuva
Chiclete pro bafo
Perfume na blusa.

Mas não tem jeito
Nem patuá
Nem santo que ajude
A te poupar.

Às vezes
A gente apanha:
Chuva
Cuspida
E até pancada.

De graça
Por nada.

Sofisticado:
Sinônimo de quê?
Meio quilo de brilho
Tapando o vácuo.

sábado, 13 de junho de 2009

poeira

Paixão virando poeira
Dispersa
Perdeu-se
Já não mais existe.

Vento agora é furacão.
Bobeou:
Tropeça no salão.

Quem dera pudesse saber
Da impermanência
Alguma coisa.

Guardo uma briga
Pra depois.

Não quero perder
Saliva e suor
Com quem não imagina
Me ter por amor.


quarta-feira, 10 de junho de 2009

não acabou

Não acabou, eu sei
Mas por hoje terminou
Cansei.

Cumpri as tarefas
Aquelas formais
Mais um dia
Passado no cinza
Mal vi o sol.

Forcei o contato
Sinal de fumaça
Sem resposta no ato.

Reacendo um cheiro
Literalmente
Hoje pedia
Uma cama bem quente.

Fim da noite
Pés congelados
A mesma música
Sempre.

Hora de mudar.

dia estranho

Hoje não consegui acordar
Até levantei
Com os cabelos lavados
Passei um perfume
E fui trabalhar.

Minha cabeça andava
Numa noite de abril
Naquele meu bar.

Num desejo absurdo
Que se repete
Não consigo evitar.

Que dia estranho!
Não imagino como
Vai acabar.

domingo, 7 de junho de 2009

iguais

Então não somos todos loucos?
Às vezes cuspindo fogo.

Colecionando rolhas
Guardando lembranças
De épocas outras.

Com vergonha da família
Brigando pela louça?

Andando na rua
Sonhando estar sem roupa.

Mudando de rumo
Conforme o termômetro.

Somos todos iguais
Na maldade e na dor.

Desejando um par
Que nos faça reais.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

no meio da tarde

Quantas surpresas
Me reserva esta cidade!
Subindo ladeiras
No meio da tarde.

Descubro um bar
Uma nova amizade.

Em alguma ruela
Brota um sorriso
Interessado.
Antes ausente
Agora safado.

Bastou retirar
O coração da bandeja
Pro jogo virar.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

explicação pra porteiro

Não costumo tentar esclarecer o que escrevo. São as palavras que ditam o ritmo. Muitas vezes desafinado. Mas me espantou minha leitora mais fiel achar que eu estou deprimida! Fica sossegada, querida, depressão passa longe daqui. Alguma melancolia sim, mas daquela boa, de ficar lembrando por dias um episódio emocionante. Ou uma pitada de nostalgia, saudade nem sei bem de quê, porque não quero voltar nem um dia.
Tenho andado sem inspiração poética, só isso. Porque meus neurônios andam ocupados com coisas bem práticas e pouco românticas, como concluir traduções e escrever uma dissertação de mestrado. Nem por isso, minha vida anda sem graça. Ao contrário, tem cada coisa acontecendo! Uma hora dessas, que nem amigo que mora longe, a inspiração aparece, e há de deixar um rastro de alegria, que só amigo de verdade consegue. Enfim...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

ausente

A poesia anda ausente
As músicas
Repetidas.
Não sei bem o quê
Me agrada o ouvido.

Não pulo capítulos
Sigo a ordem
Onde estará o caos?

Da surpresa
Quero a glória
Nunca pensei
Que virasse história.

Sem saber como
Domino o impulso.

sábado, 23 de maio de 2009

necessário

Qualquer palavra
Soa idiota
Explicação:
Torta.

Busca de sentido
Pra quê?
Redefinição?
Memória?
Masturbação.

Pular obstáculos
Não olhar para trás
Controlar impulsos.
Parar de pensar.

A água que passa
Nunca é a mesma.
Fingir que esqueceu
O horizonte muda
Nunca aconteceu.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

a vida como ela é

Uma das experiências mais incríveis da vida é dividir a infância com alguém. Ter as mesmas memórias, ainda que sempre outras, conhecer as mesmas brincadeiras, ter chorado pelo mesmo motivo triste. Isso fica ainda mais incrível quando se mora na mesma casa, e os pais são os mesmos (e tão diferentes!). Os irmãos são presentes que a gente recebe. Começam pelo sangue, mas se firmam no coração. Irmãos riem com a gente (e da gente). E quando preciso, confortam, depois de uma noite de baile, com bebida em excesso e batida de carro. Não te apontam o dedo. Apenas te afagam a cabeça, até que o álcool evapore. Irmãos te pedem socorro sem vergonha, mesmo que no dia anterior tenham te ofendido na carne. E irmãos têm filhos. Que a gente ama sem reservas, pois fazem parte da gente. São os passos da memória, olhando pra frente.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

amor abacate

Lendo Carpinejar
Li que o amor
É como abacate:
A fruta que amadurece
Fora do pé.

O amor nasce no desamor.
Pois é esse desapego
Que eu quero no amor.

Sorver cada imperfeição
Como um novo sabor.

Não rir do deslize
Certeiro como a dúvida
Que há de brotar
Por amar com defeitos
E não reclamar.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

em trânsito

Ando no trânsito
Antevejo a batida
Não reduzo o passo
Sigo a corrida.

Ignoro os sinais
Preciso andar.
Pra frente?

O retrovisor não aponta
O caminho de volta.

Às vezes esqueço
A chave
E a porta.

Quero é chegar
Ainda não sei bem aonde.
Mapa não há.
O caminho inclui
Alguns desvios.

domingo, 26 de abril de 2009

é noite

Só encontro sossego
Quando o sol me deixa.
No escuro eu fico
Mais feliz
E lenta.

Envolta em fumaça
Traço retratos
Imagino futuros.
Reacendo
Na falta de luz.

Menos calor
E brota a calma.
Criativa a hora
Em que a noite começa.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

poema da chata

Parece que tomei rasteira
Da menina besta
Que mora aqui
Em algum lugar de mim.

Parece que tem doze anos
Escreve poema com rima
Tem medo do estranho
Não quer sair da linha.

Êta guria chata,
Larga do meu pé!

terça-feira, 21 de abril de 2009

protocolo

Acusam-me de viver
De acordo com protocolos
Que eu mesma crio
E embalo.

Não sigo minha vontade
Faço contas de cabeça
Durmo tarde.

Perco horas pensando
No que seria
E às vezes esqueço
Que terminou o dia.

Não faço minha vontade
Foi a acusação.
E tive que dizer:
“- Tens razão!”

segunda-feira, 20 de abril de 2009

universal

Não me convide
Pra ver o sol nascer
Em dia de chuva.

Se me prometer,
Cumpra.

Não faça convites
Pra festas
Que não existem.

Nem alimente conversas
Que não vão além
De um dia com pressa.

Quando quiser
Apareça
Mostre suas vontades
Ou me esqueça.

sábado, 18 de abril de 2009

polidez, pra quê???

É a polidez na entrega
Que nega o fim
Ou apenas posterga.

A palavra não dita
O sentir não declarado
Espicham o drama.
Pra não fechar
As portas
Do mito sagrado.

Não há segredo
Que dure pra sempre
A boca e a mão
Indicam o pecado
Em qualquer distração.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

uma vez, e sempre

Vejo o azul
acinzentado.
Penso em ti
E passo mal.

Um borbulho no estômago
Me revira o sentido
De não esquecer
Que só existe o sabido.

Torrente de um ciclo
Que segue seguro
Obedecendo à química
Que explica o mundo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

olhos alheios

Sigo a me encantar
Com o efeito das palavras
Deglutidas por pessoas
Cada uma sem par.

Uma única frase
Ou um texto inteiro
Despertam milhares
De leituras sem freio.

Histórias mal entendidas
Sentidos devastados
Todos olhando pro mesmo
Mas cada um no seu quadro.

Divirto-me com respostas
Pra escritos
Que não eram propostas.

A visão de mundo
Por olhos alheios
Ensina a girar
Sem rodeios.


terça-feira, 7 de abril de 2009

"que se pasa, buenos aires?"

Ai, ai, ai
Por que me dói?
Tudo que nem começa
E já se vai.

Fazer mala
Sem saber
Se vai ter sol
Ou vai chover.

Sem conseguir
De todo
Desfazer o recente
Que não quer
Ser passado.

Casaco espremido
Será ele usado?

Anseio o cheiro de ruas
Por onde andarei
Sem olhar pra trás
Ao som de Coltrane.

sem fim

Não consigo ouvir o Drexler
Sem lembrar-me
Do amor
Que não quer acabar.

Ficou grudado
Espremido no corpo
Cutucando a memória.

Esforço pra crer
Que precisa sumir.
A sensação de que
A vida
Precisa existir.

Mesmo sem dias
De tintas das minhas
Viradas de rumo
Aceno de sonho
Poltrona macia.

Mesmo sem preguiça
De sair da cama
E vestir a camisa.

Do mundo lá fora
Mais frio e deserto
Sem uma perna
Roçando nas costas.

enchente

Tem coisas que a gente
Não quer sentir
Mas sente.
Incrível como a culpa
Estraga o corpo da gente:
Dói a barriga
Rangem os dentes.

Como é que pode?
Um sentir tão etéreo
Se materializar em enchente?

Deve ser por isso
Que a dor é anterior ao poema
A palavra precisa sair
Pra aliviar a represa.

segunda-feira, 30 de março de 2009

me dê a mão

Gosto que me peguem a mão
Um apoio menos do corpo
Mais do coração.
Mostra que ali
Tu inspiras atenção
És a estrela da noite
E não um cometa perdido
Esperando no espaço
Qualquer definição.

domingo, 29 de março de 2009

na pressa

Sexo bom
Pode terminar no quarto
Mas começa na sala.
Não espera o conforto da cama
O corpo todo (se) exala.
Aceita sofá estreito
Posição sufocante
Sua glória é o desejo
Urgente
Imediato
Pulsante.

quinta-feira, 26 de março de 2009

simples

Já foi mais letrado
O curso dos dias
Antes, mais escrevia
Transformava em palavras
Qualquer fantasia.

Mas fugaz que só ela
Um dia perde o encanto
Some igual poeira
Assoprada na janela.

Agora dedico algum tempo
A saborear descoberta
Namoricando a simplicidade
Escassas as letras
Mas a vida,
Repleta.

terça-feira, 24 de março de 2009

Para Cissa e para Iva

Nada supera uma troca de idéias
Despretensiosa, como um dia de férias.
Falávamos da vida
Sempre e incansavelmente
Repetindo frases
De um cantor pungente.

Daqueles que lambe
O coração da gente.

Não buscamos conclusões
Abrimos mão do ponto final.
Queremos apenas isso
Não complicar
O que é tão banal.


sexta-feira, 20 de março de 2009

foto desbotada

Não fosse digital
Já teria gasto aquela foto
Meio no mato
Meio metido.
Desbotasse com a mirada
Ficaria ainda mais cinza
Olhar que não diz nada.
Antes, alimentava dúvidas
Apontava curvas.
Tanto olhei
E deslizei nessas curvas
Que cansei!

CILADA

Como conciliar o sono
Em noite de susto?
Ressaca que se antecipa:
Bolhinhas de espumante
Engolidas por desespero
De ficar sóbria.
Ele, lobo.

Eu, cordeiro.
Porque a surpresa
De notícia já esperada?
Seria a velha cilada
Prometendo uma virada?

terça-feira, 17 de março de 2009

luz, linda

Já não me incomoda
O barulho da cortina
Quando roça de leve a cabeceira
Voz de menina.
Me encanto com Elisa,
A Lucinda. Que é luz, e é linda.
Encontro nela um afago
Um aconchego em meu recanto.
Caiu na minha mão
Que nem passarinho
Que depois de criado
Quer deixar o seu ninho.
Não vou mais pra cama sem ela.
É ela quem de noite me espera
Na mesinha que fica
Na frente da janela.

sábado, 14 de março de 2009

meio-dia

Gosto mesmo é do meio-dia
Quando inspiro o silêncio da casa
Vazia.

Barulho
Só bem distante
Das panelas do vizinho
E meu coração pulsante.

O meio-dia sempre me invade
Parece um abraço
Gostoso como andar na praia.

Mas que safado ele é!
Já vem com a mão
Por debaixo da saia.

quarta-feira, 11 de março de 2009

criativa idade 2

Fechei a porta do quarto
E senti teu eco no espaço.
Na cabeça veio à memória
De encontro que fará
Parte da história.

Será ela contada
Por boca triste e caída?
Ou será ela narrada
Com purpurina e risada?

Passei parte do dia
Sentindo moleza nas pernas
Caindo.
Reprise da manhã de hoje
Em que te esperei:
Todo sorrindo.

terça-feira, 10 de março de 2009

criativa idade 1

Desperta pra mim, menino
(Vestido de ermitão).
Abre teus olhos!
Me deixa segurar tua mão.

Quero andar contigo
Pisar no teu chão.
Assobiar de graça
Sem obrigação.

Me deixa acordar do teu lado
Ouvir tua tosse da manhã
O cheiro que vem do banheiro
Da pasta de hortelã.

Recebe! Ao menos um pouco
Do carinho que tenho pra ti.
Fermentado por conversas
Desde o dia em que te vi.

quinta-feira, 5 de março de 2009

sonhos de uma tarde de verão

Toda chuva será tua
Enquanto lá fora só ouço
Barulho da rua.

Entre lençóis aquecidos
Pelo calor do corpo
Apenas lampejo
De teu beijo tão pedido.

Ofereço um pedaço
Do cheiro do meu ar
Exalado em teu ouvido
Numa tarde de sonhar.

segunda-feira, 2 de março de 2009

um carinho pra marcinha

Marcinha minha amiga
Marcinha minha flor
Marcinha que é menina
Menina que é dor.

Marcinha desbocada
Falando alto e dando risada
Contando piada suja
E eu ficando corada.

Marcinha das conversas
Nos almoços de segunda
Marcinha que quando pára
Empina de leve a bunda.

domingo, 1 de março de 2009

O homem que não usava chinelos.

Eu, que quero na flor a força da natureza, conheci um homem que não usava chinelos. Ele dizia que era porque costumava caminhar bastante, e que tênis, portanto, seria mais confortável. Mesmo em janeiro. Mesmo no calor. E esse era apenas mais um detalhe que fazia dele tão intrigante pra mim. Intrigante como um filme do Hitchcock, que te mantém com a respiração presa, mas não te deixa desgrudar os olhos da tela, nem por um segundo. O homem que não usava chinelos abriu uma fresta na minha cabeça, enchendo-a de idéias, fazendo uma festa. Mas como todo homem que não usa chinelos, queria preservar a intriga. E eu acabei sendo amiga. Do homem que não acredita em amizade, entre galos de briga.

autumn leaves

Sinto falta do carinho
Que não aconteceu.
Ficou perdido no caminho
Emaranhado em sonho meu.

Lembro de manhãs
Acordados pela luz
Decorando entre risadas
Melodia que compus.

E de almoços de domingo
Que ficaram no desejo
Como a chuva
Pingo a pingo
Martelando algum segredo.

tempero novo

Em boa hora chega
Novo tempero
Repensar misturas
Sentir outro cheiro.

Adivinhar o passo
Entre o frio
E o mormaço.

Como será?
Pra essa
E pra tantas
Não existe resposta.
Só o tempo que passa
Abrindo as portas.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

piada

Tão leviana essa vida
Que sem avisar
Avança a mordidas.

Num único instante
Te lança no abismo
se joga na estante.

Nunca se vê
O que está logo ali
Pronto pra ser.

Pode ter qualquer forma:
Briga de rua
Cadeira partida
Som da demora.

Só sobra então
Lamber a ferida.
E rir de mais uma
Piada escondida.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

intervalo

Preciso de um instante
Pra não fazer nada.
Controlo avidez pulsante
Que toma meus dedos
Quase um rompante.

Inércia: esse meu estado.
Ficar parada se faz
Regime imposto
Forçado.


Só volto pro jogo
Por uma boa partida
Sem joelhada
nem canela rompida.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

manjericão e curcuma

Breves notas de piano
Relembram um filme
Que fala de aprender
A driblar um dilema
Em forma de imagem
E poema.

Alívio que brota
Feito cheiro de manjericão
Que exala implacável
Assim que o pé
pisa o chão.

Uma leveza na alma
Faz flutuar o corpo
Novas misturas:
Vagem e coco.

Terá efeito a curcuma?
Passada no rosto
Pra espantar a bruma.



sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Tenho por graça a doação.
Livros, sapatos, histórias:
Reparto sem freio
Minha alma e coração.

É prudente aquietar
Meu ímpeto mais vulgar.

Não preciso mais contar
O que ninguém consegue escutar.

Farei de conta que não vi:
Encerrado está
O balcão de ofertas
Pra qualquer um que me sorri.

Ou ficarei aleijada
Deixando meus pedaços por aí.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

o que vem depois da ignorância

Antes eu não sabia, e vivia cada um dos meus dias. E cada um deles tinha 24 horas. Exatas 24 horas. Agora? Não sei. Porque me perco, em longos pensamentos, tão longos quanto meus tormentos. Sim, sou uma alma atormentada, andando por aí, trôpega na calçada. Mais balanço do que caio. E é o susto da queda que me tira o encanto, de seguir por aí firme, de ir pro outro canto. E então penso no som da tua risada, meio rouca e honesta, do fundo da casa. E nos mínimos - porém precisos – comentários, na hora de tirar, o short do armário. E da tua quase displicência, em falar comigo, mãe da impaciência. Tento distrair, a memória dos meus olhos, nublar a esperança, como quem paga e perde, metade da fiança.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

fim do dia

Sempre fica algum papel pra jogar fora, uma pilha de coisas
Esperando pra ir embora. Resta sempre algum entulho, uma consulta pra marcar Um exame de rotina, lembrar aniversário. Segue a vida seu curso burocrático, fazendo de conta que tudo é importante, ou necessário. Esquece que ao final do dia, chegado o cansaço, quer-se apenas, o travesseiro e um abraço.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

fevereiro

O prédio aparenta ser velho
Mas adentrá-lo
É ser jogado na ternura
Dos braços macios
De quem não te aperta
Só segura.

É a chegada
De longa espera
Colhida como erva
Que se cuida
E preserva.

O incerto se apresenta
De camarote com vista
Pro sol que se despede
Com a chegada da visita.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

verão

Agora o verão
Me derrete o juízo
Aumenta fantasmas
Chama bandido.

Desejo o frio
Pra vestir meus casacos
Que ainda cheiram
A etiqueta e plástico.

Nada de couro:
Hoje
Visto até um sintético.
Não posso mais
Com conceito hermético.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

28 de janeiro de 2009.

Lendo “Um Spa na Índia”, da Luciana Tomasi ocorreu-me um pensamento quando ela comenta o baixo índice de divórcios na Índia, apesar do fato dos casamentos serem “arranjados”. Tentando entender como pode dar certo um casamento entre pessoas que não se conhecem, enxerguei um viés de possibilidade: dá certo porque as pessoas entram nessa nova vida sem expectativas. Certamente o que mata (ou sufoca) um casamento – e qualquer relação – são as milhares de expectativas que carregamos junto com os CDs e a escova de dentes. Não bastasse isso, jogamo-as nas mãos do parceiro, qual batata quente. Expectativas quanto a situações com as quais nem nós sabemos lidar! Esperamos maturidade porque somos carentes nesse ponto.
Então, num casamento entre desconhecidos, sem falsas promessas, sem memórias do namoro (que muitas vezes só servem pra frustrar o casamento) qualquer fato agradável será visto como lucro.
Naturalmente que esta é uma leitura romântica, mas afinada com a minha proposta particular de talvez encontrar beleza em tudo que eu acreditava ser feio.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

gameover

Precisei lançar luz
Na escada que estava escura
Escalando um a um
Os degraus de minha loucura.

Enxerguei a resposta
Do enigma que parecia
Quebra-cabeça com aposta.

O jogo acabou.
Se tinha alguma esperança,
Passou.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

simples cidade

Um novo bairro
Na mesma cidade
Abre os olhos
Pra toda alteridade.
Que mesmo adormecida
Um dia revela
A porta de partida.

Uma caminhada tranqüila
Sem pressa nem peso
É tudo que preciso
E quero.

Simplicidade:
Passagem pro futuro
Saída pro claro
Derrubada de muro.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

caso encerrado

Caso encerrado:
Fechei a porta.
Se já foi
É passado.
Deixei pra trás
O que fica empacado.

Das formas de amor
Que podem surgir
Aceito apenas
As que querem seguir.

Não faço promessas
Evito cansaço
Insistência
Descaso.

Amanhã recomeço
Vida que estava
Quase em recesso.



quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

frango com manteiga e alho

Duas horas dedicadas
A temperar com carinho
Comida com afeto
Pra mim
E pro neguinho.

Coisa da vida:
Às vezes surge
Visita imprevista.

Sentada na cozinha
Alegro-me sim
De comer o frango
sozinha.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

mutante

Parece que sou
Uma espécie de mutante
Cada dia um novo conto
Exposto na estante.

Muda a luz
Ou o cenário
Lanço novo monólogo
Pro circo imaginário.

tempestade

Pensando em FG
Pergunto-me então
Se na tempestade
É a única forma de viver.

Sonho com a calmaria
O silêncio: maresia.

Parece que temo
O costume à calmaria
Nada mudando
Dia após dia.

Receio que o silêncio
Entorpeça meu ouvido
E que quando houver música
Não reconheça o ruído.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

masoquistas

Impressionante o ser humano. Acho que é o único ser vivo que não aprende com a dor. E ainda se acha o único ser racional...Basta um mínimo de observação pra ver que qualquer cachorro de rua é mais inteligente que o homem: se levar um choque numa cerca elétrica, nunca mais irá se aproximar dela! Da mesma forma quando são adestrados; conseguem aprender qual o comportamento “correto” por meio de compensações e agrados. Mas nós, de modo geral, repetimos erros, refazemos caminhos difíceis e, definitivamente, não aprendemos com a dor. Somos masoquistas. As justificativas pra isso buscamos em alguma forma fingida de racionalidade. Tentamos explicar o patético com teorias mirabolantes. Dizemos pra nós mesmo que o sofrimento ensina a viver. Será mesmo?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

como uma luva

MINHA COERÊNCIA É A CONTRADIÇÃO.
Fabrício Carpinejar

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

pá de cal

Não consigo achar resposta
Mundo que não pára de dar voltas
Passado revirando o presente
Atordoa coração ausente.

Obra inacabada
Levanta poeira:
Sempre fica
Um pouco de sujeira.

Até que chega a hora:
Precisa ser terminada.
Pra que novas bagunças
Sejam iniciadas.

sábado, 17 de janeiro de 2009

treinar ouvir

Cansa o ouvido
Que espera escutar
Mais do que sons
Deseja estourar.

Esquece, no entanto,
Que muitos estouros
São raros e santos.

Devia buscar
Invariável ruído
Das ingênuas horas
E a ele atender
Sem alarido.

viagem

É tempo de parar
Brecar pensamentos
descansar idéias
Buscando lá fora
Novo fermento.

Revendo histórias
Buscando origens
Na santa terra
De minhas raízes.

Em meio ao conflito
O entorno parece
Um tanto tranqüilo.

Novos amigos
Futuras risadas:
Toda viagem
É sempre virada.