sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

piada

Tão leviana essa vida
Que sem avisar
Avança a mordidas.

Num único instante
Te lança no abismo
se joga na estante.

Nunca se vê
O que está logo ali
Pronto pra ser.

Pode ter qualquer forma:
Briga de rua
Cadeira partida
Som da demora.

Só sobra então
Lamber a ferida.
E rir de mais uma
Piada escondida.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

intervalo

Preciso de um instante
Pra não fazer nada.
Controlo avidez pulsante
Que toma meus dedos
Quase um rompante.

Inércia: esse meu estado.
Ficar parada se faz
Regime imposto
Forçado.


Só volto pro jogo
Por uma boa partida
Sem joelhada
nem canela rompida.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

manjericão e curcuma

Breves notas de piano
Relembram um filme
Que fala de aprender
A driblar um dilema
Em forma de imagem
E poema.

Alívio que brota
Feito cheiro de manjericão
Que exala implacável
Assim que o pé
pisa o chão.

Uma leveza na alma
Faz flutuar o corpo
Novas misturas:
Vagem e coco.

Terá efeito a curcuma?
Passada no rosto
Pra espantar a bruma.



sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Tenho por graça a doação.
Livros, sapatos, histórias:
Reparto sem freio
Minha alma e coração.

É prudente aquietar
Meu ímpeto mais vulgar.

Não preciso mais contar
O que ninguém consegue escutar.

Farei de conta que não vi:
Encerrado está
O balcão de ofertas
Pra qualquer um que me sorri.

Ou ficarei aleijada
Deixando meus pedaços por aí.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

o que vem depois da ignorância

Antes eu não sabia, e vivia cada um dos meus dias. E cada um deles tinha 24 horas. Exatas 24 horas. Agora? Não sei. Porque me perco, em longos pensamentos, tão longos quanto meus tormentos. Sim, sou uma alma atormentada, andando por aí, trôpega na calçada. Mais balanço do que caio. E é o susto da queda que me tira o encanto, de seguir por aí firme, de ir pro outro canto. E então penso no som da tua risada, meio rouca e honesta, do fundo da casa. E nos mínimos - porém precisos – comentários, na hora de tirar, o short do armário. E da tua quase displicência, em falar comigo, mãe da impaciência. Tento distrair, a memória dos meus olhos, nublar a esperança, como quem paga e perde, metade da fiança.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

fim do dia

Sempre fica algum papel pra jogar fora, uma pilha de coisas
Esperando pra ir embora. Resta sempre algum entulho, uma consulta pra marcar Um exame de rotina, lembrar aniversário. Segue a vida seu curso burocrático, fazendo de conta que tudo é importante, ou necessário. Esquece que ao final do dia, chegado o cansaço, quer-se apenas, o travesseiro e um abraço.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

fevereiro

O prédio aparenta ser velho
Mas adentrá-lo
É ser jogado na ternura
Dos braços macios
De quem não te aperta
Só segura.

É a chegada
De longa espera
Colhida como erva
Que se cuida
E preserva.

O incerto se apresenta
De camarote com vista
Pro sol que se despede
Com a chegada da visita.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

verão

Agora o verão
Me derrete o juízo
Aumenta fantasmas
Chama bandido.

Desejo o frio
Pra vestir meus casacos
Que ainda cheiram
A etiqueta e plástico.

Nada de couro:
Hoje
Visto até um sintético.
Não posso mais
Com conceito hermético.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

28 de janeiro de 2009.

Lendo “Um Spa na Índia”, da Luciana Tomasi ocorreu-me um pensamento quando ela comenta o baixo índice de divórcios na Índia, apesar do fato dos casamentos serem “arranjados”. Tentando entender como pode dar certo um casamento entre pessoas que não se conhecem, enxerguei um viés de possibilidade: dá certo porque as pessoas entram nessa nova vida sem expectativas. Certamente o que mata (ou sufoca) um casamento – e qualquer relação – são as milhares de expectativas que carregamos junto com os CDs e a escova de dentes. Não bastasse isso, jogamo-as nas mãos do parceiro, qual batata quente. Expectativas quanto a situações com as quais nem nós sabemos lidar! Esperamos maturidade porque somos carentes nesse ponto.
Então, num casamento entre desconhecidos, sem falsas promessas, sem memórias do namoro (que muitas vezes só servem pra frustrar o casamento) qualquer fato agradável será visto como lucro.
Naturalmente que esta é uma leitura romântica, mas afinada com a minha proposta particular de talvez encontrar beleza em tudo que eu acreditava ser feio.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

gameover

Precisei lançar luz
Na escada que estava escura
Escalando um a um
Os degraus de minha loucura.

Enxerguei a resposta
Do enigma que parecia
Quebra-cabeça com aposta.

O jogo acabou.
Se tinha alguma esperança,
Passou.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

simples cidade

Um novo bairro
Na mesma cidade
Abre os olhos
Pra toda alteridade.
Que mesmo adormecida
Um dia revela
A porta de partida.

Uma caminhada tranqüila
Sem pressa nem peso
É tudo que preciso
E quero.

Simplicidade:
Passagem pro futuro
Saída pro claro
Derrubada de muro.