segunda-feira, 30 de março de 2009

me dê a mão

Gosto que me peguem a mão
Um apoio menos do corpo
Mais do coração.
Mostra que ali
Tu inspiras atenção
És a estrela da noite
E não um cometa perdido
Esperando no espaço
Qualquer definição.

domingo, 29 de março de 2009

na pressa

Sexo bom
Pode terminar no quarto
Mas começa na sala.
Não espera o conforto da cama
O corpo todo (se) exala.
Aceita sofá estreito
Posição sufocante
Sua glória é o desejo
Urgente
Imediato
Pulsante.

quinta-feira, 26 de março de 2009

simples

Já foi mais letrado
O curso dos dias
Antes, mais escrevia
Transformava em palavras
Qualquer fantasia.

Mas fugaz que só ela
Um dia perde o encanto
Some igual poeira
Assoprada na janela.

Agora dedico algum tempo
A saborear descoberta
Namoricando a simplicidade
Escassas as letras
Mas a vida,
Repleta.

terça-feira, 24 de março de 2009

Para Cissa e para Iva

Nada supera uma troca de idéias
Despretensiosa, como um dia de férias.
Falávamos da vida
Sempre e incansavelmente
Repetindo frases
De um cantor pungente.

Daqueles que lambe
O coração da gente.

Não buscamos conclusões
Abrimos mão do ponto final.
Queremos apenas isso
Não complicar
O que é tão banal.


sexta-feira, 20 de março de 2009

foto desbotada

Não fosse digital
Já teria gasto aquela foto
Meio no mato
Meio metido.
Desbotasse com a mirada
Ficaria ainda mais cinza
Olhar que não diz nada.
Antes, alimentava dúvidas
Apontava curvas.
Tanto olhei
E deslizei nessas curvas
Que cansei!

CILADA

Como conciliar o sono
Em noite de susto?
Ressaca que se antecipa:
Bolhinhas de espumante
Engolidas por desespero
De ficar sóbria.
Ele, lobo.

Eu, cordeiro.
Porque a surpresa
De notícia já esperada?
Seria a velha cilada
Prometendo uma virada?

terça-feira, 17 de março de 2009

luz, linda

Já não me incomoda
O barulho da cortina
Quando roça de leve a cabeceira
Voz de menina.
Me encanto com Elisa,
A Lucinda. Que é luz, e é linda.
Encontro nela um afago
Um aconchego em meu recanto.
Caiu na minha mão
Que nem passarinho
Que depois de criado
Quer deixar o seu ninho.
Não vou mais pra cama sem ela.
É ela quem de noite me espera
Na mesinha que fica
Na frente da janela.

sábado, 14 de março de 2009

meio-dia

Gosto mesmo é do meio-dia
Quando inspiro o silêncio da casa
Vazia.

Barulho
Só bem distante
Das panelas do vizinho
E meu coração pulsante.

O meio-dia sempre me invade
Parece um abraço
Gostoso como andar na praia.

Mas que safado ele é!
Já vem com a mão
Por debaixo da saia.

quarta-feira, 11 de março de 2009

criativa idade 2

Fechei a porta do quarto
E senti teu eco no espaço.
Na cabeça veio à memória
De encontro que fará
Parte da história.

Será ela contada
Por boca triste e caída?
Ou será ela narrada
Com purpurina e risada?

Passei parte do dia
Sentindo moleza nas pernas
Caindo.
Reprise da manhã de hoje
Em que te esperei:
Todo sorrindo.

terça-feira, 10 de março de 2009

criativa idade 1

Desperta pra mim, menino
(Vestido de ermitão).
Abre teus olhos!
Me deixa segurar tua mão.

Quero andar contigo
Pisar no teu chão.
Assobiar de graça
Sem obrigação.

Me deixa acordar do teu lado
Ouvir tua tosse da manhã
O cheiro que vem do banheiro
Da pasta de hortelã.

Recebe! Ao menos um pouco
Do carinho que tenho pra ti.
Fermentado por conversas
Desde o dia em que te vi.

quinta-feira, 5 de março de 2009

sonhos de uma tarde de verão

Toda chuva será tua
Enquanto lá fora só ouço
Barulho da rua.

Entre lençóis aquecidos
Pelo calor do corpo
Apenas lampejo
De teu beijo tão pedido.

Ofereço um pedaço
Do cheiro do meu ar
Exalado em teu ouvido
Numa tarde de sonhar.

segunda-feira, 2 de março de 2009

um carinho pra marcinha

Marcinha minha amiga
Marcinha minha flor
Marcinha que é menina
Menina que é dor.

Marcinha desbocada
Falando alto e dando risada
Contando piada suja
E eu ficando corada.

Marcinha das conversas
Nos almoços de segunda
Marcinha que quando pára
Empina de leve a bunda.

domingo, 1 de março de 2009

O homem que não usava chinelos.

Eu, que quero na flor a força da natureza, conheci um homem que não usava chinelos. Ele dizia que era porque costumava caminhar bastante, e que tênis, portanto, seria mais confortável. Mesmo em janeiro. Mesmo no calor. E esse era apenas mais um detalhe que fazia dele tão intrigante pra mim. Intrigante como um filme do Hitchcock, que te mantém com a respiração presa, mas não te deixa desgrudar os olhos da tela, nem por um segundo. O homem que não usava chinelos abriu uma fresta na minha cabeça, enchendo-a de idéias, fazendo uma festa. Mas como todo homem que não usa chinelos, queria preservar a intriga. E eu acabei sendo amiga. Do homem que não acredita em amizade, entre galos de briga.

autumn leaves

Sinto falta do carinho
Que não aconteceu.
Ficou perdido no caminho
Emaranhado em sonho meu.

Lembro de manhãs
Acordados pela luz
Decorando entre risadas
Melodia que compus.

E de almoços de domingo
Que ficaram no desejo
Como a chuva
Pingo a pingo
Martelando algum segredo.

tempero novo

Em boa hora chega
Novo tempero
Repensar misturas
Sentir outro cheiro.

Adivinhar o passo
Entre o frio
E o mormaço.

Como será?
Pra essa
E pra tantas
Não existe resposta.
Só o tempo que passa
Abrindo as portas.