quarta-feira, 29 de julho de 2009

o inverno de 2009.

É só do que se fala
Nos vestiários
Ante-salas
Banheiros
No trabalho:
O inverno
Está de matar.

Mata minhas vontades
Apaga minha luz
Me deixa aqui congelada
Chorando um blues.

Fujo do banho
Que nem criança
Que só quer passar
Pelo calor da infância.

Minha morada
É câmara fria
Nunca aquece
Nem de dia.

Pouca coisa me esquenta:
Um Toddy quentinho
LP em fase lenta.

Se o frio
De fato
Conserva
Vou viver 200 anos...

terça-feira, 21 de julho de 2009

um pulinho no inferno

Não me imagino com um par
Sem um rastro de dor.
Lençóis sem manchas de vida
Não cabem na minha cama:
Preciso ver despudor.

Embalagem violada
Bolachinha começada
Já andei meio caminho
Não fico na calçada.

Não me vejo com um par
Que não tenha passado
Alguma tragédia
Mágoa ardida
Que não tenha passado o inferno
Pra ficar do meu lado.

domingo, 19 de julho de 2009

depressão de inverno

Nunca leio alto
O que registro no espaço.
Talvez por medo
Que o som do poema
Faça dele verdade
Ou se perca.

Assim como eu
Que ando sem mim
Falando em voz baixa
Do inverno sem fim.

Deve ser o só o frio
E os dias nublados
Que levaram embora
Meu pedaço de sol.

Reviro as cobertas
Prefiro o sonho.
Não quero acordar
Enquanto for cinza.

sábado, 18 de julho de 2009

mais um dia de frio

Hoje não engoli
Minha dose de realidade
Finjo que o sol
Brilha na cidade.

Dos dias nublados
Quero apenas a saudade
Lembrar que só às vezes
O frio me invade.

Empurro a solidão
Pra algum canto da casa
Não quero mais lembrar
Da aparência opaca
Do meu rosto
Nos dias de ressaca.

Vou esquecer
O que não existe
Histórias sem razão
Agora deixo o silêncio
De resposta pra paixão.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

mais um poema de amor

Tenho cultivado esse amor
De noite quando paro
De dia quando falo
(e também quando calo).

Não quero dividi-lo
Não porque fosse assustá-lo
Apenas porque é meu
E sendo assim
Prefiro guardá-lo.

Alimento o bichinho
Procuro em Bandeira a razão
Molhada em melancolia
Encontro em Pessoa vazão
Pro resto da fantasia.

Faço lindo meu amor
(bem mais do que seria)
É como um cactus:
Quando bem tratado
Amanhece em flor.

domingo, 12 de julho de 2009

anel de benzeno

Quero rasgar as lembranças
Poucas
Quebrar toda a louça
Limpa e branca.

Deixar de sentir
Aborrecimento
Pela ausência
Da fantasia do momento.

Vou interpretar
Outro papel:
Moça malvada
Que não pensa
Sai pra rua
De saia rasgada.

Romantismo barato
Ferida mexida
Até o bagaço.

Amanhã
Vou abrir a janela
Vão entrar
Passarinhos
Que eu não via
Nem ouvia cantar.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

o olho brilhou

Deixo-me sugar pelo tempo
Ouvindo ensurdecida
Tuas palavras no ventre.

No meio do show
Aproveito a música
Pra trilha sonora
Da minha mistura.

De beijos e cheiros
Que me povoam
O rosto.
Não disfarço
(nem quero)
O brilho no olho.

Sem planos
Nem papéis
Sem pensar amanhã.
Mordo cada dia
Um pedacinho
Da manhã.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

cruzando a ponte

Tenho andado
Feito disco velho
Arranhado.

Toda noite
Repito o refrão
Parece mantra
Sem meditação.

Aproveito as pausas
Pra buscar diversão
Tento brincar
Que o sim
Agora é não.

Ou pra passar
Por cima da ponte
O sol brilhando na tarde
Com alma de fotógrafo
Que pensa na imagem
E não bate.