terça-feira, 28 de dezembro de 2010

pro chupeta

faz parte do sistema
vida agora adulta
cobra pedágio
e multa.

te tira tanto
quanto te dá.

retribui tanto risada
quanto pancada.

te deixa tonto
de tanto rir
ou de chorar.

2010 se vai.
tanta alegria me deu.
tanta resposta.

e uma dor
que jamais vai passar.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

o cinza

morando em porto alegre
aprendi a gostar de céu nublado.

vento soprando
cinza no cenário.

tenho saudade de antes
quando ainda era fumante.

sinto falta do tempo
eu criança
passeando de auto
porta-malas aberto
cheirando o asfalto.

estranho momento:
gente perfeita.

comida sem sódio
paixão sem pimenta.



quarta-feira, 17 de novembro de 2010

love is so beatiful

hoje cheirei em segredo
minhas melhores memórias
inalei o presente
esqueci o trauma.

espalhei surpresa
bilhetinho de pressa
recado de festa.

rumo ao sul
do sul
vamos pintar paredes
romper membranas
viver a dois.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

inspirada por nelson e hindi zahra (at the same time)


tem um livro do nelson (sim, depois de tantos anos já temos essa intimidade) que se chama 'não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo'.
pois bem, até há pouco eu evitei enfrentar essa questão, com um medo terrível de que isso pudesse, fatalmente, ser verdade.

exercitando meu lado mais rodrigueano eu diria que amor mesmo, no duro, amor batata, tem que doer. amor que é amor dói. pro bem e pro mal.

domingo, 24 de outubro de 2010

mini epifania

deve estar em algum canto da memória
uma idéia que tive
pra contar uma história.

alegria me afastou das letras
hoje escassas, rarefeitas.

confirmo a regra
da tristeza produtiva:
felicidade é concreto,
desassossego, combustível.


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

uruguay no más

com o diabo no corpo
e o sol na mala
me fui a punta
tratar do passado.
passado que vira presente
bem antes
que derrame o leite.
nova vida
bumerangue
girando impecável
direto no alvo.
fui a punta
e deixei o diabo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

lendas urbanas

Foi aquela minha conhecida que fazia bio-dança na década de 90 que me contou. Parece que entre os apreciadores tá rolando um novo conceito, um lance de acompanhar as mudanças do novo milênio, ética ecológica, terceira onda, blá, blá, blá...
Pois então, antes a galera corria pra Lanchera e pedia de cara um x-bacon com ovo e uma coca normal. Na saída, invarialvemente, comia um negrão (já viu o tamanho do negrinho da Lanchera?) e nos dias mais punks pedia uma barrinha da Nestlé pra levar.
Em casa, as opções eram muitas: goiabada com queijo, sorvete de creme com calda de chocolate (derretido no micro), pão preto mofado com geléia de morango, restinhos de cassata da festa de ontem, torrada de chocolate com queijo, creme de leite misturado com Nescau e açúcar, ou mesmo apenas uma barra de chocolate.
Disse a guria que o arraso do momento é a neolarica. O cara come duas bergamotas, uma laranja, duas bananas e - se bobear, um cacho de uva (dedo de dama!!!).
Reza a lenda recém-nascida, que além de ser uma postura afinada com o meio-ambiente, estimula o intestino, e por isso vem sendo adotada como tratamento alternativo para doentes de prisão de ventre crônica.
Também deu uma força pro vegetarianismo e etc., que alcançou um prestígio até então desconhecido. O consumo de frutas aumentou de tal modo, que já tá rolando um boato de que a feira ecológica (tradicional de sábado) vai funcionar todos os dias; mas parece que a prefeitura tá com dificuldade de encontrar um local sem ter que desapropriar alguma área (certamente) já ocupada por posseiros.
Segundo relatos do pessoal do teatro, o mais incrível é que quando os neolariquentos se juntam com o pessoal das antigas, rola maior pressão; os adeptos da neolarica fazem cara de nojo com desdém quando ouvem alguém sugerir: “ Um chocolatinho?”.
Quanta intolerância!!!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

o ócio criativo e o cenário espontâneo

leia-se: o tédio começou a pegar a convalescente.

domingo, 8 de agosto de 2010

enganada

em raros momentos, deixo de escrever isso que chamam de poesia pra manifestar alguma indignação.
pois a indignação de hoje certamente não será entendida pela grande maioria do porto-alegrenses. pouco me importa, essa cidade vive de enganos mesmo... (visite: http://wwwmeenganaqueeugosto.blogspot.com)
ontem tentei almoçar num famoso restaurante tipicamente italiano, já sonhando com uma sopa de capelletti pra começar, e depois, um spaghetti com polpetta (aliás, quando meu consorte falou polpetta, a moça que nos recepcionava murmurou um 'hã?', revelando não fazer a menor idéia do que se tratava).
já na chegada nos deparamos com aquele tumulto clássico dos famigerados buffets livres. ai meu deus, as pessoas acham bonito pratão cheio! variedade! quantidade! façam fila! pode comer à vontade! (e depois, dê-lhe lipo).
mas tudo bem, vamos respeitar o mau-gosto alheio. (só não me peçam pra participar)
assim, que ao me deparar com o buffet livre, já dei a primeira broxada.
mas fiquei eunuca quando a simpática mocinha - aquela que não sabe o que é polpetta - me apresentou a 'ilha de sushis'.
enfim...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

sopa de letrinhas


o corpo ainda morno

amolece no vapor.


enquanto a panela,

mistura de legumes e idéias,

descansa.


espera pela fome

sem pressa

diante da cumbuca fumegante.


engole um poema de benedetti

descrição do seu dia

leitura do seu amante.


ora ri

ora chora.


sabe das apostas:

será que fica

ou vai embora?



sábado, 19 de junho de 2010

feriado


pausa

ainda não
(me) abandonei.

precisei de um espaço
pra amarrar o cadarço.

cessar os tropeços
acertar o passo.

pequena pausa das letras:
menos melancolia
menos luz no fim do dia.

sacrifico a poesia
por um punhado de alegria.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

immer wieder da

um dia inteiro
de conversa (a) fiada.

desvendando buracos
perdidos no espaço
revirando tempo
como se fosse um casaco.

silêncio que segue
depois do sufoco.

é gritando
que se perde a voz.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

tanto tempo perdido
na frente do espelho
escolhendo vestido
comportado, fingido.

altero a consciência
pra chegar no que sou:
sou fogo prendido
maresia morosa
insana, ruidosa.

inspirando sentidos
farejando figuras
em corpo
e ouvido.

ressurgindo
dos dias
que eram dias
noites esquecidas.

de vez em vez
a vida pode ser
um cabaret.

domingo, 28 de março de 2010

pedazo de mi alma

não evitar
o inevitável
a chuva alcança:
inútil proteção.

a água cinza
é palco.
alma alçada
sentido confirmado.

cumplicidade trocada
entre soluço e risada.

mudança de vento
soprando futuro.

ciclo do tempo
companheira de vida
diversão impagável
sem despedida.

segunda-feira, 22 de março de 2010

'lunes al sol'

nem mais um dia
mergulhado em sombra
afogo a melancolia.
minha tristeza não se alonga
dura o tempo de um disco
quiçá uma milonga.
subo e desço uma serra
um looping de vida
sopro da mata.
mesmo de longe
enxerguei a cascata
água descendo nas pedras.
ainda que perca o vôo
não perco a viagem.

quarta-feira, 17 de março de 2010

um dia

a manhã começou com um sol agradável de fim de verão, enquanto eu, ainda sonolenta, refazia a rotina de todas as manhãs, buscando no armário qualquer coisa que não fosse jeans, e mesmo assim, pudesse me garantir uma aparência ainda jovem. já na rua os ombros largos de um menino me distrairam do meu livro de capa vermelha. pensei que certamente seria gay, mais um, nesse universo complexo que é o mundo de hoje, nessa cidade confusa, que mescla pessoas excessivamente conservadoras e fakes de modernidade. na subida da anita vi uma casinha sendo demolida, daquelas com portãozinho e caixa de luz na entrada, o que me fez lembrar as casas do cassino da minha infância, mas sem o portãozinho, porque naqueles tempos não eram necessários. engraçado como a infância é associada a cheiros, e imediatamente senti cheiro de grama recém cortada, e senti o incômodo de andar de pés descalços na grama, que me causam uma coceira imediata e descontrolada. o dia foi daqueles de sonolência permanente, produtivo e distante. na minha cabeça uma música o tempo todo repetindo um refrão, redundando posto que refrão, e nascido pra isso, pra ser repetido.

domingo, 14 de março de 2010

stand by

toda essa calmaria
marasmo calado
ausência de euforia
fará de mim o quê?
me pergunto nesses dias.

virá tempestade
torrente
ou letargia?

meus fragmentos cansados
murchos
esmaecidos
conseguirão se unir
no mesmo quadro?

o que resta lá dentro
espera alimento
estímulo
um empurrão
pra se jogar no vento.

terça-feira, 9 de março de 2010

quisera eu também
deixar correr meu sangue
através de um espiral.

pedaço de metal torcido
pra contornar os excessos
de vingança que escorre
de todos meus botões.

a engenhoca faria
barreira em torno do medo
angústia de perder
um pedaço de raiz
que me obriga a viver
um pedaço da minha vida
que me obriga a ser.



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

quero a despedida
encerrar a conversa
retomar a partida.

quero ver minhas letras
em forma de som
sinais de fumaça
cruzando a cidade
e os bancos da praças.

quero o contato
de almas perdidas
encontros do acaso.

quero cheio meu prato
todas as cores
no mesmo retrato.

quero dormir em silêncio
aquecer os meus pés
cobrir os meus sonhos
flutuar na maré.

vício

dizem da palavra
o maior dos vícios.

pois também nela me perco
transformando imagens
em seqüências de símbolos.

motivo de mal entendidos
impressões disformes
amores perdidos.

mais um truque
envolver pela trama
encontros desconexos
perfeitos no verso
fuga da pele.

ponto, afinal

colocado o fim
no ponto de partida
que definia meu som
e minha comida.

parecia infindo
abstrato
disforme.

turvas imagens
construções:
miragem.

nunca mais fiz ambrosia
agora delicio meus ouvidos
com vitor ramil
e sua poesia.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

a crise do ano

enfim começou
a crise anual
fevereiro chegando ao final
e eu imaginando
as malas no portal.

todo ano
quero ir embora
preciso me imaginar longe
vivendo meio anônima
provando novos sabores.

desejo vida nova
um país distante
novo começo
novos amantes.

por alguns dias
vivo o sonho
de ganhar outra vida
e sigo adiante.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

sem graça

ando tão sem graça
que nem paisagem pintada.
palhaço de circo
que esqueceu a piada.

o maremoto de antes
agora é marasmo.
sem mar
só asfalto.

pequenas euforias
ainda tão próximas
não me arrancam de casa
nem da camisola.

me sinto bem
acho até que
normal.

vou esperar
a vida só recomeça
depois do carnaval.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Ewig

há músicas
que nunca cansam
sempre as mesmas
e sempre outras
alegram o ouvido
borbulham sentido
permanecem.

tempo passado
calçadas lavadas
de lágrimas e chuva
diversos destinos
novos caminhos
transitórios.

e a música segue.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

um silêncio raro
trânsito livre
apenas alguns poucos
(mas nem tão poucos)
rebeldes remando
contra ondas de calor.
ameaça de falta d'água
os que ficam
não merecem refresco
ousaram desobedecer
a triste obrigação
de sair
e achar diversão
em estradas lotadas
e praias forjadas
porto alegre se fecha
é carnaval.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Montevideo

pupilas encharcadas
pequenas luzinhas
reluzindo um céu artificial

pequenas mudanças
vida mais real

memórias de viagem
impregnadas na pele

hispano-lembranças
fervilhando no corpo

mate na Rambla
a lua mais bela
ruas encantadas
canções regaladas
Patrizia e risadas

malas programadas
pras próximas chamadas.

domingo, 17 de janeiro de 2010

dia da santa faxina
fiz como a cissa:
me livrei da sujeira
passei pano no vidro dos olhos.

clareou a vista
mudou a rotina.

passar a ferro
o passado.

remover com ácido
rugas de preocupação

deixar pra trás
sementes mofadas.

limpei tudinho:
espero visita.

sábado, 16 de janeiro de 2010

janeiros

sufocante começo
novos fantasmas
velhos janeiros.

transformar em palavra
sentimento que assola
medo do ridículo
de escrever caraminhola.

pesado janeiro
dias sem vento
esperando respostas
que já estão prontas.

janeiros malditos
levando o sono
perturbando a paz
me fazendo nascer.

sábado, 9 de janeiro de 2010

o mormaço de janeiro

tem que existir
outro mundo
com sabor
de sofá de casa.

reviver a infância
cumplicidade de memórias
ainda que diversas
as histórias.

aconhego em silêncio
um par na ausência.

nenhum pudor
identidade aberta
saudade do futuro.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

então o que vem agora?
já sei das águas que passarão
levando o hoje embora.
desejo mesmo que rolem
não em forma de lágrimas.
amanhã
ou qualquer outro dia
o espetáculo fulgurante que vejo presente
será mais uma memória recente.
o alívio que a verdade garante:
quanto tempo dura?