quinta-feira, 27 de junho de 2013

fim do dia

em tempos de mudança
ando insone.

vou até o fim
o dia me consome.

largo a última gota
pouco antes de ir pra cama.

onde o calor me espera
e alguém me come.

entrego tudo
esqueço meu nome.

só assim eu durmo
ainda com fome.

terça-feira, 25 de junho de 2013

semente no vento

até meu olho
muda de cor.

busco apressada
caneta, lápis
tinta borrada.

se perco uma idéia
perco a risada.

registro a data
anotas as linhas 
(vividas)
puladas.

todo bimestre
visito o passado.

vejo lá atrás
formar-se o momento
colheita incerta:
semente no vento.

domingo, 23 de junho de 2013

alma em trapo

tiro a cada dia
um pedaço de casca.

ilusão de escudo
faço o que posso:
faço tudo.

já há muito não quero
proteção
paciência fraca
preconceitos
marcas de faca.

quero doçura
saindo de mim
complacência 
entrega
calor sem fim.

me apronto
cuido de mim
me trato
analiso
retalho.

refaço
novas costuras
de uma alma em trapo.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

despudorada

nesses dias de cansaço
só peço da vida
menos chuva
mais abraço.

um pouco de calor
de cor
de contato.

perdida de mim
já nem sei quem sou.

um corpo em movimento
no dia que passou.

sou sem pudor
espalho vontades
digo desejos
anuncio saudades.

revelo passagens
bendigo coragens.

de cada um 
tiro vantagem.


sábado, 15 de junho de 2013

sem sangue

já entreguei o que tinha
alma e sangue
amor de rainha.

exausta 
vazia
varri todo o sangue
(assim me disseram)
morta a galinha.

é pra cá que venho
lavar as feridas
lamber as angústias
beber despedida.

nada há hoje
que eu possa dar.

mas peço 
(já com vergonha)
casulo
e calma.

de dia ironia
à noite
tristeza
mel no colo
poesia.



quinta-feira, 13 de junho de 2013

junho fechado

dias de canção
batida
repetida
mastigada

mau humor me consome

me bate na cara

reclamo

resmungo
remôo

noite úmida

corpo amarrado
música e fumaça
me salvam.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

mais de mim

tanto mudo
me refaço
rabisco
me rasgo
rebusco.

permaneço o que sou
pequenos ajustes
reparos
resumos.

me acostumo comigo:
paraliso.

filtro um a um
espio
quem são meus amigos.

revisito pedaços
salto no espaço.

me olho
me amasso.

cada dia que passa
mais um passo.

hoje,
namoro comigo
me abraço.


terça-feira, 11 de junho de 2013

vida curva

se a vida não é linear
me pergunto porque temos pernas
e não rodas prá andar.

digo ao amigo
que abra a cabeça
não dê chance às merdas
que acompanham os quarenta.

ninguém escapa
derrapadas
deslizes
tombos
pauladas.

mas a vida é curva
e gira.


quarta-feira, 5 de junho de 2013

viciada

cada um com seu vício:
rivotril
ritalina
álcool
ou lítio.

o meu é outro:
troca de fluidos
presença de corpo.

contato denso
respiração ofegante
beijos intensos.

pele e som
mistura de músculos
em todos os tons.

pressão certeira
viro explosão.

no fim sou só calma
cheiro
redenção.






terça-feira, 4 de junho de 2013

minha terra me espera

meia dúzia 
de romances escritos
inspiram o dia
atraem meus gritos

gemidos no escuro
em meio às cobertas
por entre minhas coxas
sussurros e frestas

recebo propostas
indecentes
ausentes
indecorosas

noites de frio
virtualmente aquecidas
com promessas safadas
de beijo
e bebida

minha terra me espera
é lá que vou
fazer minha festa

segunda-feira, 3 de junho de 2013

na cama

O lençol é novo
Minha pele,
A mesma.
 

Minha cama
Prefiro sozinha
Mas aceito visitas
De noite
De dia.
 

Gosto mesmo
Ao meio-dia
Quando sou mormaço
E barriga vazia.

Quando do corpo do moço
Faço um banquete
Melhor dos almoços.