quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

vai, 2015.

pois é chegada a hora
de começar nosso adeus.

vai, 2015, encerra teu show.

no insuperável balanço dos anos
foste dos mais duros.

e como toda dureza
trouxeste lágrimas
melancolias
encerramentos
incertezas.

mas também trouxeste no pacote
maturidade
coragem
força
e contraste.

não te quero mal: 
ao contrário.
agradeço cada dia
e cada sombra
que restava no armário.

trouxeste crianças
amores em forma de pureza.

e trouxeste ainda,
a minha nega teresa.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

de fachada

visto minha cara educada
pra ver contigo a fachada.

fissuras no meu concreto
antes expostas
despidas 
abertas.

já te pedi ajuda
pra curar a dor
da falta tua.

já te implorei distância
pra entender teu silêncio.

teu amor
sem apego.

hoje te vejo
tão diferente
e tão do mesmo.

um abraço entrega
tua faísca
e deixa teu cheiro.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

sonegação

não te importa com o que dou
porque tua parte na conta
não queres pagar.

não sonego sentimento
abri a porta devagar.

entrou tua essência
teu cabelo
que cheiro com paciência.

levo tudo 
pro coração
acomodo no peito
tua tensão.





segunda-feira, 26 de outubro de 2015

23.09.2015

adoro cheiro de esmalte
de olhar o vazio úmido da noite.

quando tudo se aquieta
e poucas luzes
e poucos carros
percorrem ruas vazias.

adoro pessoas que riem
cheiro de gengibre
limão siciliano
lavar o cabelo
toques insanos.

gosto de lençol esticado
frescor de roupa lavada. 

meu olhos
são meu nariz.

minha pele, matriz.

obsessão

obsessão
podia ser meu nome.

é essência
perfume que me consome.

entra no ouvido devagar
e se espalha
em todo lugar.

repito
revejo
reflito 
prometo.

desligar
parar
calar minha cabeça
fechar meus olhos.

deixar que se vá
que desapareça.

mas fracasso
e te chamo.

penso
repenso
observo
condenso.

aperto o repeat.

até que outra música
me faça virar

o lado
o disco

meu play do amar.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

onze

torre caindo
armadura saindo
paradigma rompido
inesperado se abrindo.

turbilhão de imagens
travam a língua
falada 
escrita.

frio
na barriga.

alívio
surpresa

insônia
clareza.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

em fuga

gente em fuga
correndo da vida.

falta de tempo
agenda falida.

gente com medo
de sair para a rua
presa na tela
de um telefone pra lua.

tudo é de longe
contato não passa
de sombra na noite.

incompletos os laços
espectros 
espaços
reservas
descaso.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

calma

um vazio que se instala
enche o quarto
domina a sala.

falta
ausência
inexistência.

mandei embora
amores sem fundo
imaginários
da hora.

nenhuma memória
sombra
história.

nada há
que me faça parar
nada há
que me faça pensar.

desocupei o espaço
espectros do acaso
pedestres no asfalto.

nada.
ninguém.

nenhum corpo
nenhuma alma.

só eu
comigo
sou calma.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

tarde mansa

tudo passa
menos essa tarde mansa
que pede cama
ou rede na varanda.

tudo passa
turbilhão um dia termina
euforia se esgota
fruta barata na esquina.

rotina retoma seu lugar
dias medianos
de par em par.

bem vinda, calmaria.

dias tranquilos
sem sustos
sem novidade

quase sem graça
pra quem navega em tempestade.

terça-feira, 21 de julho de 2015

UTI

tentativa de fuga
mal sucedida
não consegue
esconder a ferida.

mais uma:
eterna despedida.

antes amor
agora azia.

armadilha da saudade
me pegou sem aviso
quase sem maldade.

a dor me obriga
a parar a corrida.

abalada estaco
encerro a partida.

deixo a tristeza
fazer seu papel
limpeza da carne
das sombras no céu.

terapia intensiva
pra salvar uma alma
cheia de vida.

domingo, 12 de julho de 2015

pintando

depois de surtos
de loucura alheia respingando
por frestas e panos
preciso de tinta
para encontrar paz
conforto 
eixo da frente
encontra o de trás.

na tela não tenho plano
apenas ideia
que se mostra sozinha
vontade só dela.

as cores surgem
sem previsão
contornos desfeitos
perfeitos
sem chão.

não existe prévia
esboço
ideia.

combustão espontânea
descontrole
descoberta.
 


quinta-feira, 2 de abril de 2015

da infância

eu sei que parece mentira
mas dez anos passam
enquanto a gente se vira.


e só depois
a gente entende
o que a vida quer:
a vida pede tempo.


e quando a gente entende isso
começa a olhar prá frente
e a querer tudo agora
urgente.


bate na gente
uma pressa de criança
que com todo o tempo pela frente
pensa que 10 minutos
duram para sempre.


atropela o corpo da gente
aquela pressa da infância
que não sabe esperar


quer comer logo a sobremesa
antes mesmo de jantar.

domingo, 8 de março de 2015

L de Luiza

L de Luiza
Que em dias incertos
é temporal
em outros
apenas brisa.

Luiza que me confronta:
cobra um poema
que faça sentido
que faça dela a estrela.

Luiza que me tem
mais do que imagina
que é brilho nos meus olhos
a lembrança mais amena.

Luiza que eu quero
bem e muito mais.

Luiza que eu amo
mesmo quando briga
e me obriga a partir
sem beijo
e sem despedida.

sábado, 31 de janeiro de 2015

vida no asfalto

perder um amor
é pior que morrer.

é ter que seguir a vida
com o peito vazio
escondendo a ferida.

noites e dias
sem sentir o teu cheiro
e a tua saliva.

usando a razão pra explicar
o que não tem explicação.

buscando outras peles
sem nenhuma paixão.

te vendo dobrar a esquina
só no verniz dos meus olhos.

tomar banho sozinha
na imensidão do chuveiro
da banheira vazia.

mas a vida é mais forte
e sempre encontra um jeito
de brotar no asfalto
por fora
e por dentro.






quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

afagos avulsos

equilíbrio abalado
encontro forjado
na forma e no modo
virtualidade mundana
na sombra e no drama.

por pouco artifício:
não fosse a vida
generosa e hábil
largando suas pistas.

sincronia do instante
se apresenta sorrindo
quando largo o volante.

afagos avulsos
sussurros no escuro.

apuro o ouvido
colho conselhos
enfrento meus medos.

recupero o silêncio  
me recolho 
reconheço

escuto apenas
meu próprio desejo.
 




terça-feira, 20 de janeiro de 2015

pós-festa


sala vazia  pós-festa
ressaca entrando
por todas as frestas.


escada abaixo
passam os dias
recalques
descasos.

recolho latas
de risos e faltas.

revejo os passos
na pista de dança
no frio do asfalto.

murcha qual balão
sem tesão e sem ar
sozinha no salão.