sábado, 15 de dezembro de 2018

segredo

até agora 
não aprendi a amar
aquele amor que faz casinha
laço mais apertado
aquele almoço de família 
juntos na cozinha

aprendo a caminhar
buscando equilíbrio
entre o que quero
e o que posso dar

colhendo parcerias
me amarrando a pessoas
que são o meu lar

amigos de música
de poema
de bar

amigas de viagem
pra fazer uma trilha no deserto
e quase sufocar

amigas de cookies
de bolo
café
ou chá

amiga pra risada
pra tatuagem 
sexta-feira 13
na madrugada


só uma certeza
a vida vale 
as pessoas que ela traz.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

asilo

então hoje
véspera do começo
borboletas e frio na barriga
lembro do primeiro dia:
fui encantamento

essa doçura que sorri em teu olhar
teus braços abertos 
e aquela conversa que transpõe o tempo

sou surpresa

atordoada

me entrego à correnteza...

sexta-feira, 27 de julho de 2018

SEXTA-FEIRA, 27 de abril

Marquei o divã
na parte mais dolorosa

rasgando o corpo
a alma
as cascas
todos meus critérios
preconceitos
dogmas
mistérios

como um quebra-cabeça 
alucinógeno
vou catando pedaços
pistas da verdade
piscando no espaço.

Até o acaso
vem me dar o braço.

Vejo tudo
o que não quero
e o que não repasso.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

música

nada me move mais
nada me tem
com tantos ais.
uma revolução interna
comoção de sinais
conjunção de projetos
fantasias fatais.

sempre me ajuda
lubrifica os canais
desentope os sentidos
me ajuda a ver mais.

ilumina meu dia
meu quarto
e tudo o mais.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

poema alupinado

foi mesmo
esse olhar ancestral
que me despiu
me fez corar
me fez gemer
me penetrou assim
cheio de justiça
meio sem licença
numa poça de querer

foi teu olhar ancestral
que buscou em mim a fêmea
meu desejo visceral

teu olhar ancestral
que me acende os mamilos
faróis táteis
na escuridão do lençol

tuas mãos hábeis
que tocando meus tambores
me derretem:
água e sal.

domingo, 22 de abril de 2018

Para Claudio

EU TE DISSE,
AMIGO
QUE EM BREVE
TUA ACIDEZ 
VOLTARIA EM CASTIGO.

ESSE DE LEVE
QUASE UM AFAGO
TAPINHA DE DEDO
NA PONTA DO BRAÇO.

AZEDO AMIGO!
TE TENHO CARINHO
TEUS ÁCIDOS
SÃO UM CAMINHO

TUAS PALAVRAS NUAS
PORQUE DESPIDAS DE QUALQUER DOÇURA
SÃO APENAS VERDADES
ESPELHOS 
E CURAS

PROMETI UM ROTEIRO
DE FILME
DE PEÇA
PRO AMIGO AZEDO

TE DOU UM POEMA
PORQUE TU É CHATINHO
MAS VALE A PENA.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

poema analisado II

dou mil voltas
em torno de mim
até que algo faça sentido
até que uma mão gentil
abafe esse ruído
acalme esse furor
que me corrói
meu inimigo.

sintoma
não é sentimento

é o que deu errado no sentir
é sentir com tormento.

poema analisado I

entrego-me ao sentir
me afasto do querer

te adorarei sozinha
olhando-te em silêncio
murmurando pensamentos
que são só meus
amorosos
intensos

aceito que são meus
desnecessário dividir

platonizo meu querer
faço do teu não
um amigo
me visto de calmaria
nela me abrigo.

terça-feira, 20 de março de 2018

Para Dany López

se cruza um rio
e tudo muda.

distâncias bem pequenas

resultam diferenças extremas.

chora-se um oceano

para limpar da alma os enganos.

se cruza um dia 

e tudo afunda.

barcos fantasma

resistindo à tempestade
sucumbem ao fim
esmaecem na paisagem.

se cruza um medo

e tudo é luta.

se cruza o desejo

e tudo é fuga.

mas quando cruzo a fronteira

(da banda oriental)
é tudo música.





segunda-feira, 19 de março de 2018

14

Luiza
que anda pelo mundo 
parecendo distraída

Mostra dia a dia
que sabe onde pisa.

Luiza
que já veio ao mundo
de alma e cabeça aberta
sabe exatamente
o jeito certo 
de expor suas ideias.

Luiza que agora
mal me fala
mal me olha

mas sempre

me abraça

e me acolhe.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

nicotina

há uns 25 anos
que estamos assim
nesse vai e vem.

ora juntos
ora separados

e eu sempre achando
que era bom
te ter ao meu lado

sabendo mesmo
todos teus pecados.

mas hoje a consciência
esse guia teimoso - que me testa a paciência
te bota pra fora.

e desde então 
não durmo direito
dia inteiro
desconforto no peito.

o olho não pára
não tem paradeiro.

inquietude me toma
se aloja 
na boca
agora sem cheiro.





quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

aquela senhora teimosa

mando embora a esperança
essa senhora teimosa
que nunca se cansa.

vazios antigos
vácuos perdidos
que comiam na mão
daquela senhora teimosa

recheio aos poucos
com poesia 
e prosa.

não dá pra esperar
pote de ouro
que é feito de ar.

lá fora há um mundo
vou encontrar
um peito 
onde possa dormir
um abraço 
onde queira morar.

hoje

hoje me hidrato
com água de coco
houve um tempo
era tua saliva
cobrindo meu corpo.

meu cabelo hoje
anda solto
antes mudava as ondas
destino dos loucos.

hoje esqueço
deixo pra lá
feridas antigas
que quero fechar.

hoje
abro novos caminhos
saio da curva
amplio meus ritmos.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

a verdade

nada
ofende mais do que a verdade.

espelho 
escancara a nudez
arranca a vaidade.

saber quem se é
de corpo inteiro
inclusive a maldade.

defeitos
postos na mesa
indigestos
cobertos de pimenta.

realidade
amiga cruel
um dia chega
retira o véu.

dor provisória

clareza perene
se torna leveza
num dia sem sol.