domingo, 30 de novembro de 2008

onde está o amor? em homenagem ao espetáculo homônimo de nico nicolaiewsky


Mudo sempre meu perfil
Não quero ser a mesma todo dia.
Preciso dar muitos passos
Encontrar minha alegria.

Não canso de tentar
Sou teimosa, é verdade
Isso não morreu
Nem com a idade.

Repasso minhas mágoas
Documentário da vida.
Tento aprender com elas
E sigo em frente
Cabeça sempre altiva.

Aqui ou no sul
De algum país distante
Acredito sem medo
No calor do meu amante.

esperança

São breves
Meus assombros de paixão
Duram pouco mais
Que a mordida no pão.

Saboreio cada pedaço
Imaginando novos recheios:
Presunto, manteiga ou melaço?

Transformo
Pequenos lanchinhos
Em uma grande refeição.
Imagino o banquete:
Receitas francesas, vinho e açafrão.

No fim, só migalhas
Que deixam lembranças
Contos inventados
Lampejos de esperança.

18-11-2008

Engano meu foi pensar
Que duraria feliz
Andando sem par.

De nada valeu minha altivez
Que me fez acreditar
Que não preciso reforço
Na briga pelo ar.

Cansei de ser só
Quero dar a mão a alguém.

Preciso admitir, isso não se nega:
Quero também
Aquele amor bem brega.

domingo, 23 de novembro de 2008

sem remédio

Quem dera pudessem
breves instantes de perfeição
ser capazes
De avivar
a brasa latente
Que me move o coração.

Formalidade embalada
Lembram o quê
Despertar quer dizer.

Tensão acumulada.
Num leve roçar de dedos
Em alguma manhã de maçada.

Pela porta espero
De minha fantasia
Ver a entrada
Que em sonho imagino
Da vida a virada.

Rótula do tédio.
Ainda penso
Não encontro remédio.

sábado, 15 de novembro de 2008

precipício

Sei que um dia estarei
De cara com o abismo
Pés tremendo na beira
Suor gelando o corpo.
Vou ter que olhar pra baixo
Não posso virar o rosto.

É a única certeza
E foge-se dela
negando
A verdade
embutida na natureza.

Só de pensar
dói o estomago
aperta a garganta.

Esforço apenas
Pelo perene
Que dure no vácuo
Preso à memória.
É pela morte
Que se busca glória.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

ponto a ponto

De repente lembrei-me do ponto.
O ponto de partida.
Ou aquela sensação
De ter passado do ponto.
Ponto de bala.
Ponto como único objetivo.
Ponto de taxi. Ponto de encontro?
Marcar um ponto. Acumular pontos.
Pra quem sabe trocá-los
Em algum ponto de troca.
Em que ponto eu andava?
Falava do ponto
Aquele da vida, a que um dia se chega
Em que chegou a hora
De colocar
Um ponto final.
Pra começar uma nova fase. Digo, frase.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

falsa mazela

Tudo que te assola
Um dia passa
Se colocado pra fora.

Deixa sair o que te consome
Confia e espera
Um dia
Ele some.

Não esconde o teu tormento
Seja ele passagem
Ou excesso de sentimento.

Escancara tuas janelas
Respira o ar lá de fora
E esquece
As falsas mazelas

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Mas o que é afinal a solidão? Senão estar acompanhada – o tempo todo – de mim mesma. E eu posso ser extremamente cansativa, com essa minha mania de remoer fatos e cutucar sentimentos. Eu não me dou um minuto de paz. Insuportável, eu posso ser. Pensando o tempo todo, até que os neurônios se cansam e param de trabalhar por alguns instantes. Apenas o tempo de um bocejo, que lhes garante ainda um pouco de oxigênio. E quando eles já não agüentam mais, é o corpo que pede uma trégua, exaurido pelo eterno embate mental. É quando sinto o peso da solidão, meu próprio peso.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

de mãos dadas com Pessoa

Pra cultivar a tristeza
Dou a mão a Pessoa
Me deixo levar sem assombro
Sigo o curso na proa.

Tento mastigar
Rudeza e indiferença
Enquanto lamento
Total apatia
Nudez sem beleza.

Carinhos regalados
Pisoteados no caminho
Derramam em mim
Tristeza:
Pessoa no ouvido.

sábado, 1 de novembro de 2008

Para D. (levemente modificado)

Na ausência de pôr-do-sol
O mais famoso dos desconhecidos
Mostra seu medo
Seu coração partido.

Conta suas mágoas
Em meio a misturas
De cerveja e soda
Brindando à realidade na roda.

Dinheiro perdido
Perde o valor
Se o amor não valeu
O esforço investido.

a flor

Todo mês experimento
Um lampejo de tormento.

Me toma pela mão a fumaça
Me arrasta feito carcaça.

Arranca de mim minhas lágrimas
Sem esforço
Sem amarras.

Exalo o perfume no máximo
Recebo em palavras
Odor inebriado
Que guardo pra breve
Destilar o veneno
Adoçado.