segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

esperado

Mil gracejos faz a vida
Revelando culpas
Após a ferida.

Rotina do nada
Dias mirando o teto
Rompendo barreiras
Salvando afetos.

Repassar o passado
Vê-lo aberto
Ou lacrado.

Sempre a dor
Avivando desgraças.

Perdão empacado
Que graça da vida:
já era esperado.

sábado, 20 de dezembro de 2008

FELIZ ANO NOVO

Fim da linha.
De uma delas.
Ainda outras virão.

E passarei por elas
Mesmo sem saber
Aonde vão.

Ora espiar
Pegadas que ficaram atrás
Adivinhar seu eco
Passos errados
E certos.

Alegria de saber
Que há ainda
Muito a suceder.

Do outro lado do muro
A vida vai aparecer.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

registro

Nas mesas de bar, volta sempre o mesmo assunto: os jogos mal sucedidos do amor. Ou qualquer outro nome que expresse essa perplexidade que nos toma de assalto ao constatarmos o óbvio: a vida anda muito estranha.
Tenho a sensação que desaprendi a jogar, se é que algum dia eu soube. Nunca fui adepta de estratégias, menos ainda de trapaças. Deve ser por isso que me perco fácil nas jogadas do adversário, que para mim, deveria ser antes um parceiro. Não sei bem o que fazer, se seguro a bola ou se devo chutá-la pra frente com vontade, o que na verdade é meu desejo mais intenso.
Dizem por aí que um "não" é o mais poderoso dos afrodisíacos, o que me faz pensar quanta carga de masoquismo é necessária para se fazer algum ponto. Por certo que não acharei resposta, e nem é esta minha intenção. Deixo aqui apenas um registro, formal (ainda que virtual) do quanto eu ainda não sei viver.
Aguardo dicas.

sábado, 6 de dezembro de 2008

epifania

Surpresa do inesperado
Epifania do rio
Brotou sem pecado.

Num instante
Refuto
Todo anterior
Conceito virado.

Olhos curiosos
Virilidade imponente
Presença vibrante
Arrancou de mim
Pensamento incessante.
Não estou só
Trago comigo a sorte
De ter por perto
Um quintal florido
Sem portas
Nem corte.

Às vezes
Um cão amigo
Que não late
Não morde.

Segue meus passos
Alegre no trote
Procura por mim.
Se preciso,
Me acode.

Brilho do sol
No fim da minha tarde
Epifania sem nome
Som sem alarde.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

eterna agonia


Cá estou de novo
Sentada à espera.
Daquela fantasia
Quicá quimera.

No labirinto da minha racionalidade
Refaço caminhos
Percorro a cidade.

Dentro da minha cabeça
Apitam tambores.
Pássaros velozes
Misturam as cores.

Embrulho no ventre
Tento me distrair
Ficção de calmaria
Enquanto pipoca
Eterna agonia.

domingo, 30 de novembro de 2008

onde está o amor? em homenagem ao espetáculo homônimo de nico nicolaiewsky


Mudo sempre meu perfil
Não quero ser a mesma todo dia.
Preciso dar muitos passos
Encontrar minha alegria.

Não canso de tentar
Sou teimosa, é verdade
Isso não morreu
Nem com a idade.

Repasso minhas mágoas
Documentário da vida.
Tento aprender com elas
E sigo em frente
Cabeça sempre altiva.

Aqui ou no sul
De algum país distante
Acredito sem medo
No calor do meu amante.

esperança

São breves
Meus assombros de paixão
Duram pouco mais
Que a mordida no pão.

Saboreio cada pedaço
Imaginando novos recheios:
Presunto, manteiga ou melaço?

Transformo
Pequenos lanchinhos
Em uma grande refeição.
Imagino o banquete:
Receitas francesas, vinho e açafrão.

No fim, só migalhas
Que deixam lembranças
Contos inventados
Lampejos de esperança.

18-11-2008

Engano meu foi pensar
Que duraria feliz
Andando sem par.

De nada valeu minha altivez
Que me fez acreditar
Que não preciso reforço
Na briga pelo ar.

Cansei de ser só
Quero dar a mão a alguém.

Preciso admitir, isso não se nega:
Quero também
Aquele amor bem brega.

domingo, 23 de novembro de 2008

sem remédio

Quem dera pudessem
breves instantes de perfeição
ser capazes
De avivar
a brasa latente
Que me move o coração.

Formalidade embalada
Lembram o quê
Despertar quer dizer.

Tensão acumulada.
Num leve roçar de dedos
Em alguma manhã de maçada.

Pela porta espero
De minha fantasia
Ver a entrada
Que em sonho imagino
Da vida a virada.

Rótula do tédio.
Ainda penso
Não encontro remédio.

sábado, 15 de novembro de 2008

precipício

Sei que um dia estarei
De cara com o abismo
Pés tremendo na beira
Suor gelando o corpo.
Vou ter que olhar pra baixo
Não posso virar o rosto.

É a única certeza
E foge-se dela
negando
A verdade
embutida na natureza.

Só de pensar
dói o estomago
aperta a garganta.

Esforço apenas
Pelo perene
Que dure no vácuo
Preso à memória.
É pela morte
Que se busca glória.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

ponto a ponto

De repente lembrei-me do ponto.
O ponto de partida.
Ou aquela sensação
De ter passado do ponto.
Ponto de bala.
Ponto como único objetivo.
Ponto de taxi. Ponto de encontro?
Marcar um ponto. Acumular pontos.
Pra quem sabe trocá-los
Em algum ponto de troca.
Em que ponto eu andava?
Falava do ponto
Aquele da vida, a que um dia se chega
Em que chegou a hora
De colocar
Um ponto final.
Pra começar uma nova fase. Digo, frase.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

falsa mazela

Tudo que te assola
Um dia passa
Se colocado pra fora.

Deixa sair o que te consome
Confia e espera
Um dia
Ele some.

Não esconde o teu tormento
Seja ele passagem
Ou excesso de sentimento.

Escancara tuas janelas
Respira o ar lá de fora
E esquece
As falsas mazelas

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Mas o que é afinal a solidão? Senão estar acompanhada – o tempo todo – de mim mesma. E eu posso ser extremamente cansativa, com essa minha mania de remoer fatos e cutucar sentimentos. Eu não me dou um minuto de paz. Insuportável, eu posso ser. Pensando o tempo todo, até que os neurônios se cansam e param de trabalhar por alguns instantes. Apenas o tempo de um bocejo, que lhes garante ainda um pouco de oxigênio. E quando eles já não agüentam mais, é o corpo que pede uma trégua, exaurido pelo eterno embate mental. É quando sinto o peso da solidão, meu próprio peso.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

de mãos dadas com Pessoa

Pra cultivar a tristeza
Dou a mão a Pessoa
Me deixo levar sem assombro
Sigo o curso na proa.

Tento mastigar
Rudeza e indiferença
Enquanto lamento
Total apatia
Nudez sem beleza.

Carinhos regalados
Pisoteados no caminho
Derramam em mim
Tristeza:
Pessoa no ouvido.

sábado, 1 de novembro de 2008

Para D. (levemente modificado)

Na ausência de pôr-do-sol
O mais famoso dos desconhecidos
Mostra seu medo
Seu coração partido.

Conta suas mágoas
Em meio a misturas
De cerveja e soda
Brindando à realidade na roda.

Dinheiro perdido
Perde o valor
Se o amor não valeu
O esforço investido.

a flor

Todo mês experimento
Um lampejo de tormento.

Me toma pela mão a fumaça
Me arrasta feito carcaça.

Arranca de mim minhas lágrimas
Sem esforço
Sem amarras.

Exalo o perfume no máximo
Recebo em palavras
Odor inebriado
Que guardo pra breve
Destilar o veneno
Adoçado.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

XUNY

Xuny só enxerga a casca
Ressente afogar-se
Se limpar a cara.

Foge do embate
Xuny é guerreiro calado
Custa a crer
Que possa estar errado.

Xuny teme
Não ser necessário
Precisa comandar o navio:
Ele é o corsário.

Xuny entendeu a mensagem
Que sua presença
Sempre é passagem.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

em aberto

É preciso acabar com o vício
De rever condutas.
Terminar a aventura
Sem muitas perguntas.

Evitar conclusões
Definitivas
Absolutas.

O movimento gera mudanças
No curso das águas
Ou das lembranças.

Nada pode ser tão certo
Que não deixe uma fresta
Um caminho aberto.

domingo, 19 de outubro de 2008

noite de sexta

Percebi o luxo que é
Dormir sem pensar
A que horas o sábado
Vai começar.

Deitar e esquecer
O dia que ficou
Sonhar mundo afora
apagar onde estou.

Pra talvez despertar
Quando a fome bater
Ou a luz acabar.

Viver 24 horas
Sem inventar
Uma só perguntinha
Uma bolha de ar.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O que é um nariz quando se pode ter um corpo inteiro?

Sai da minha frente, falido
Que agora eu vou passar:
Desfilando minha raiva
Sem pudor
E sem pesar.

Preciso vomitar
Qualquer resto de memória
Quero zerar o ponteiro
E te cuspir
Da minha glória.

cegueira

Alguém sabe a hora exata
De retirar a venda
E enxergar o som do tapa?

Pequenos enganos
Que deixei passar
Tropeçando no caminho
Sem conseguir desviar.

Sumiu a honestidade
Tomou forma de ar
Me deixou espantada
Com a cegueira que vi
Tomar meu olhar.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

fim de carreira

Quem não sabe
Ou tem preguiça de nadar
Devia ficar quietinho
E não entrar no mar.


Não se puxa uma arma
Sem intenção de atirar,
Há um grande risco
Da bala retornar.

Acenos de alegria
Promessas de verão
Passado na Bahia.
Agora, meu amigo, te digo:
Não.

Confusão já tenho a minha.
Seguirei com ela
Feliz
Sozinha.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

poema de um verso só

Tenho um coração
feito esponja.
Precisa estar cheio
Pra que não se esconda.


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

PLANTA DE SOL

Sou daquelas plantas
Que se molha com freqüência
Preciso do sol sem medida
De calor e de dormência.

Não sou de me deitar
Em grama seca
E sem par.
Prefiro o barulho das ondas
O molhado do mar.

Tudo em mim transborda
Em mau humor ou risadas:
Palavras ou letras
Encontram a porta.

Pareço ter empacado
No meio da tempestade
Só aceito inteiro
Não me ofereça metade.

As não realizadas
Fantasias do dia
Passam para a noite
Em forma de poesia.

domingo, 5 de outubro de 2008

sol a pino

Não entrei nesse jogo
Pelo sofrimento
Entrei pra colher
A alegria do momento.

Não quero distância
Nem frutos
Que alimentem
Agonia e ânsia.

Quero sol a pino
Ao longo do dia
E estrelas reluzentes
Pra encerrar a folia.





quarta-feira, 1 de outubro de 2008

comum

Não me tomem por poeta
Sou apenas alguém
que se dispôs
A deixar uma fenda aberta.

Gosto mesmo
É de brincar com as palavras.
Ventilar idéias.
Contar minhas farpas.

Pretendo com as letras
Tirar algo mais
Colorir a melancolia
Que acompanha as rotinas.
Impor o meu tom
À luz de cada dia.

Se alguém com isso se encanta
Muito me alegra
Pouco me espanta.

Se produzo algum arrebatamento
É por mostrar a verdade
Da simplicidade ordinária
Do meu sentimento.

É por ser imperfeita e comum
Que encontro eco
Nos ouvidos de quem
também
É apenas mais um.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

afundando

Estou exausta
De buscar resposta
Olho pra casa
Mas não consigo
Tirar o nariz da porta.

Preciso que seja verdade
Que a estrada vai
Além do que se vê.

Como na letra de uma música
Que ouço mil vezes
Quase uma súplica.

Tem que ter mais
Do que essa correria
Desenfreada
Que se repete
Dia a dia.

Se o barco afunda
Preciso nadar.
Mas por alguns instantes
Só sei afundar.

domingo, 28 de setembro de 2008

Gespenster

Não é indolor
O farejo da verdade
fatos
essência.
Sem dó
nem maldade.

A dura crueza
Da transparência
Perturbam o estômago
E a consciência.

Todo discurso
De fé e paciência
Somem diante
Da total impotência.

O que está consumado
Só retorna no tempo
Pra alertar os fantasmas:
amigos cinzentos.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

lar doce lar

De onde virá
Tanta sujeira?
Dos pés que apressados
Andaram pela rua?
Ou pelo buraco da soleira?

Passa vassoura
Aspirador e pano
E nunca acaba a poeira.

Sempre tem um pratinho
Esperando o detergente
Ou uma caneca perdida
Usada pro chá quente.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

manhã

Serão teus
Todos meus afagos
Calor da pele
Abraços apertados.

Noites imediatas
Paradas apenas
Pra repor a água

E virão então
As manhãs sonolentas
De amor sem pressa
E bocas sedentas.

Tomaremos café
Olhando a paisagem
Vendo quem passa
Sem supor sequer
O quanto a gente
Ainda se quer.

TPN

Tempestade armada
Vento a soprar
A água me puxa
Sinto afogar...

Vejo a corda
E hesito em pegar
Será preciso
Estar amarrada
Enquanto meus braços
Procuram o ar?

Será uma escolha
A terra
Ou o mar?

ENFIM

SERÁ MESMO VERDADE
QUE O NOVO COMEÇO
SÓ SE DEFINE
PELO ÚLTIMO FIM?

QUE SENDO TUAS
MINHAS VONTADES
JÁ NÃO CABEM ELAS
MAIS EM MIM?

QUE A VERDADE
NESSA HISTÓRIA
É UMA PROMESSA
SORRATEIRA
E RUIM?

ALGUÉM PODE ME EXPLICAR
ENFIM?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

clima de despedida

Chegou o dia
De deixar pra trás
A minha fantasia.

Hoje te deixo
Não quero falar.

Larguei teu poema
Perdido num livro
E virei a página
Comecei a andar.

Até mesmo o dia
Precisa acabar
Pra que possa a noite
encontrar seu lugar.


domingo, 21 de setembro de 2008

fim do domingo

O futuro?
Não posso vê-lo.
Sinto de leve
Vidas se enrolando
Fios enlaçados:
Lã e novelo.

Nessa noite
Acredito
Em visita da saudade
Sem rumo e sem destino
Prazer por vontade.

Fim do domingo.
Lembro da chuva
Noite tranqüila
Sem nenhum respingo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

fora de foco

Meus olhos tontos
Não conseguem achar
O ponto fixo
A direção do olhar.

Todo o entorno
Parece vibrar
E me perco
Disperso
Começo a voar.

O vazio de idéias
Talvez se assemelhe
Ao barulho do mar
Constante
Presente
Basta escutar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

crianças a caminho

Pega as pedras do caminho
E joga na água
Hão de fazer barulho
Assustar passarinho.

Nos rios lacrimosos
Põe teu barquinho
De madeira ou papel
Deixa correr
Ele acha o céu.

Segura a vida
Levanta as mãos
Agradece os presentes
Beija as crianças
Que já nasceram
Ou nascerão.

domingo, 14 de setembro de 2008

Feito chuva de verão
Despenca a vida
Começa em botão.

Cheia de promessas
Encantos
E planos
Retomando seu curso
Após tantos anos...

Completo o ciclo
Que segue sem cessar
Pipocam alegrias
Dias sem par.

O futuro chegou.

Coragem de quem
Soube enxergar
Novo dia se abrindo
Nova chance de amar.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

alento

No fim da estrada.
Está o alento
Pra quem seguiu
O rumo do nada
Caminho de vento.

Depois do sufoco
Da espera da chuva
Que sempre passa
Somem as nuvens
seca a ressaca.

Vencido o espanto
Da surpresa surgida
Em meio ao encanto
Brilham idéias
De repouso sem pranto.

Esqueço as dúvidas
Deixo-as num canto
Suponho o futuro
Visto agora
O sonho de branco.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

exposição

Hoje escutei
Que pra aprender
É preciso se expor.
Parar de tirar
Aprender a por.

Então me apresento
Abro a janela
Tiro a tampa
Espio a panela.

Pouco a pouco eu mostro
Pedaços de mim.
Taras, vontades, fraquezas.
Aprisiono memórias
Coleciono surpresas.

Digo quem sou:
Humana
Visceral
Mundana.

Vivo a estética
Invento meus dias
atropelo a ética.

Da quebra de ossos
Não tenho mais medo
Só vale a verdade.
Aprendo.
É cedo.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

quarta, a tarde

Passado o mormaço
Morre no morro
A tarde.

Passarinhos cantando
Lembram que o dia
Já está acabando.

Como será a noite?
Talvez uma surpresa
Desejo ou vontade
Aqueçam a noite:
Memória da tarde.

amor líquido

Dizem por aí
Do amor líquido.

Sempre líquido
É o amor.
Que num repente se espalha
Sem cor e sem forma
Te invade
Te molha
Atrapalha.

Não sabe o caminho
Te cobre
descobre
Gota a gota.
Pingando de leve
do canto da boca.

Fluido de amor
Em fim de festa
Embaça o pudor
Liquefaz teu suor.


quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Faz parte das necessidades humanas a busca de algumas verdades. Na forma de certezas, de histórias, de fatos, de fotos, de filmes. A forma é um só um detalhe. O que a gente quer mesmo é aquela confirmação definitiva, que servirá como um referencial para todo o resto. A verdade como bússola. O arquétipo da certeza.
Assim, coloco aqui uma das verdades que andaram cruzando meu caminho. Não fui eu que formulei, copiei de uma amiga, que copiou de um amigo...e certamente alguém há de me copiar, dado o caráter universal e definitivo das seguintes palavras:

“Três coisas irreversíveis: o tempo, as palavras e as oportunidades."

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

PAUSA

Feita a aposta
Há de ser o tempo
A única resposta.

Coloquei todas as cartas na mesa
Despejei meu medo, insegurança
Incerteza.

Dura é a espera
Perco o rumo
Esqueço do chão
Piso somente no ar
Prendo a respiração.

Quem sabe do jogo
O resultado?
Apenas desejos
Largas idéias
De estar contigo
Ter-te a meu lado.

domingo, 24 de agosto de 2008

sem medo

É a certeza
De tua alma em flor
Que abafa meu medo
De viver com dor.

Do turbilhão dos dias
Em que ando sozinha
Vem uma brisa
Alento da espera
De quem sempre caminha.

Rumo ao futuro
Ainda incerto
de estar contigo
sempre bem perto.

Amigo, parceiro
Amante certeiro
Te quero assim
Sempre inteiro.

sábado, 23 de agosto de 2008

caixa de amor

Recebi uma caixa
Surpresa de amor
Amor que não passa.

Fica guardado
No tempo e no espaço
Esperando a hora
De dar novo passo.

Renovo meus votos
Refaço a promessa
De amar sem demora
Sem nem uma pressa.

Sorrio sozinha
Lembrando amor
Que trago guardado
Ansiando a visita
Que chega em breve
Da cidade vizinha.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

delirios insones

Noite de insônia
Cabeça girando
Quase caindo
Pra fora do corpo.
Desejo o sossego
Que tem sido pouco.

Fantasmas reais
De carne e osso
Surgem assim
Num repente de louco.

Pra falta de sono
Não existe remédio
Passa o tempo:
Nunca o tédio.

Espero do santo
alguma resposta
deixei-o entrar
abri minhas portas.

Sem embaraço
Entrou sem licença
Impossível agora
Evitar a certeza
Da sua presença.

domingo, 17 de agosto de 2008

HOMENAGEM

Muito raramente eu publico aqui escritos que não os meus. Não porque não haja autores que mereçam, mas porque a idéia deste blog é publicar as minhas próprias brincadeiras com as letras. Mas, de tempos em tempos, abro uma exceção. É o caso de hoje, onde presto a minha homenagem a MANUEL BANDEIRA, autor deste belíssimo poema. Aí vai:



POEMA SÓ PARA JAIME OVALLE

Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da
[noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei
[pensando...
- Humildemente pensando na vida e nas mulheres
[que amei.

chuva de domingo

Deixo a chuva do domingo
Tomar conta do meu dia.
Nada quero
Apenas preguiça
melancolia sorrateira
que espreita meus passos
agarrada na soleira.

Momento- digestão
Das flores e dos sapos
Engolidos sem perdão
Em minutos ligeiros
Sem repouso
e sem tensão.

Domingo é dia
De cultivar a tristeza
Mandar embora a euforia
A pressa e a certeza.

Pequenos enganos
Esquecidos pelo chão
Quero vê-los longe
Da verdade e da razão.

Segue a chuva
Pingo a pingo
Gotejando sem pesar
Mais um dia de domingo.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

reencontro

Já andei perdida
Sem sumo
ressecada
Caída.

Enlace apertado
coro do canto afinado
Lembrou que a dor no peito
Já havia passado.

Um momento de silêncio
Recupera a meada
Do fio que andara sumido
Percorrendo a calçada.

Encontro aliviada
Num passado logo ali
caminho esquecido
nesses dias que perdi.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

aridez

É hora de encerrar:
O capítulo de aridez
De minha solteirice.
Dia após dia
Liberdade sem limite.

Quero clausura
Sensação de aperto
amor sem cura.

Engana quem me vê
Sorrindo independência
Quero aconchego
Parceria e dormência.

Companhia pra dormir
Alegria ao acordar
Abraçada pelo dia
Que ajudei a clarear.

Cumplicidade
com quem conhece meus defeitos
Ri comigo
e acha bonito
Se fico sem jeito.


planta de estufa

Alguns caminhos
Só apontam saída
Viagem sem volta
Alma partida.

Há esperas
Sem qualquer retorno
Angústia, ferida
Falta de sono.

Muita dor
Não se explica
Sequer se entende
Só se sabe que bate
E fica.

Planta de estufa
Criada sozinha
Ignora o mundo
Da estufa vizinha.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

mundo de fabi

Já cansei
De avental branco
Derramado de vaidade
Falta de cabelo
Lábia com maldade.

Não suporto mais
Ouvir papo de normal
Não-fumantes
Comida natural.

Abomino
Gente sem defeito
Moral inabalável
Brilho por fora
Por dentro: despeito.

Agora lamento
secura de lágrimas
tempestade sem vento.

Quero o mundo mais louco
Sem vergonha nem pena
Lugar pro muito
E pro pouco.

Risada forte
Gritando verdades
Matando a morte.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

pra noite deste dia

Pra noite deste dia
Eu só desejo ver o mundo
Com olhos de criança
Que ouve duas vezes
A própria voz
Sorri e não cansa.

Queria eu
Pra noite deste dia
Olhar pra cima
E ver apenas o céu.
Com ou sem estrela
Apenas sentar
Esquecer meu papel.

Quisera eu
Ser lançada no ar
Pra viver mais um
dia sem par.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

despedida

Ando no vácuo
Sem flor e sem som.
Cercada de nada
Só papel de bombom.

Pacato desencanto
pouco me aquece
não brota o pranto
de encontrar na lixeira
embalagem vazia
perdida num canto.

Dor de saudade
Só aparece depois
Que a tristeza me invade.

terça-feira, 29 de julho de 2008

um dia só

Entre um dia e outro
Chove um mar
Nasce um conto.

Poucas horas se passam
Como se fossem inteiras
Ali nascem
Num repente
A semente e a colheita.

Entre um dia e outro
Cabe uma ida
Ao fundo de tudo
Onde passa uma vida.

Cada minuto acolhe
Um convite à partida
Rumo ao outro dia
Entrada e saída.

domingo, 27 de julho de 2008

fluxogramas

Às vezes preciso parar de inventar versinhos. Pra escrever uma ou outra história, com o claro intuito de explicar pra mim mesma os complexos fluxogramas que a vida me apresenta.
O drama pode começar com uma vontade. Sabe aquele que todas, repito, todas querem? No começo eu achava que ele era só amiguinho mesmo. Um livro daqui, um email dali. Enfim, um dia a coisa se esclarece. E a merda acontece.
Até aí, tudo tranqüilo. Mas eu tenho essa mania de escrever. Mania não, é uma necessidade. E tudo, absolutamente tudo que acontece na minha vida, pode virar um poema. Ou uma história. E assim foi, usei a inspiração trazida pelo tal moço pra fazer uns versinhos. E só. Só? Só seria muito pouco. Mandei um email, com os versinhos. Antes de apertar no “send” pensei: - Putz, certo que o cara vai achar que eu to apaixonada. Mas eu não estou. Embora eu tenha dito a ele que poderia me apaixonar. Isso é óbvio. Sempre é possível se apaixonar. 50% de chance. Normal. Só que eu não to apaixonada. Curti o cara. Muito mesmo. Mas é isso. Na verdade eu não lembro de todos os detalhes e isso me incomoda um pouco. Seria preciso um repeteco pra eu não deixar escapar nada. É bem possível que além de não responder, ele se afaste de mim, com medo da maluca que se apaixonou e mandou uma poesia. É, ele vai achar isso. Seguramente vai ficar pensando: “- Cara, que mulher pirada. Foi só uma vez. E a louca me mandou uma poesia. Louca, pirada, insana.” Acho que talvez o cara tenha razão. Eu devo ser maluca mesmo. Eu é que sei que tudo me inspira. Que já escrevi poesia inspirada por uma corrida de táxi. Escrever, tudo bem, mas mandar? Oh, céus. Que dúvida. Ele não vai me responder. Por outro lado, mesmo no susto, o cara é tri vaidoso. Vai adorar saber que fiz uma poesia inspirada nele. Ele é do tipo consciente. Sabe que é poderoso. Massagem no ego. Quem não gosta? E mandei.
Esperei a resposta um dia ou dois. Depois parei. Essa tormenta mental, que cria fluxogramas complexos, é só uma desculpa. Eu realmente gosto de presentear, e não me importo se o outro, sabe receber.

sábado, 26 de julho de 2008

rever

Aqui no frio, sem internet, aproveito pra repensar um tema que há dias passa na minha cabeça. Há pouco terminei de assistir, pela segunda vez, o filme “Beleza Roubada”. E concluí que não é o mesmo filme que assisti há mais de dez anos.
É aí que entra meu tema, que não tem apenas um nome, mas pode ser resumido em “rever”. Filmes, idéias, crenças, medos, sonhos, esperanças, fantasias, lembranças...
Cheguei à conclusão de que um segundo olhar é imprescindível. É preciso ver. E rever. Uma, duas, muitas, várias vezes. Porque o olho é deficiente. É limitado.
Não se enxerga tudo de uma só vez. A vida vai apresentando novas nuances a cada momento. Num piscar de olhos, muda, como o vento. Por isso a necessidade de treinar os sentidos. Ou então a gente esquece de ver a vida, deixa passar, e não enxerga, o que acontece!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

realizando

Todo dia te vejo
ventam horas gritando
por lembrar todos os beijos
Roubados no escuro
numa sala de desejo.

Tropeço na razão
Me atiro no abismo
Sei que é em vão.

Balanço na corda
Procuro a porta
Que me leve pra fora
Desse labirinto falido
Surgido assim
meio bandido.

Sei do final
E corro o risco
Sou visceral.
Aguardo atenta
Mais um sinal.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

cabritinho

Cabritinho se esconde
No topo da montanha
É preciso viajar
Para encontrá-lo.
Mas quem lá chega
Leva o prêmio
Sem choro
Nem barganha.

dia de santo

Era sábado
Perto do almoço
Esbarrei no santo
Aquele do moço.

Entrou sem licença
Invadindo os panos
Da minha cabeça.

Achei que o santo
Devia ser meu
Amigo e cúmplice
Nas breves passadas
Da chuva no céu.

Eis que então
Veio de longe
Na mesma tarde
Onde o pudor
Não se esconde.

Fica a idéia
De andar de trem
Descendo a ladeira
E com sorte
Na chegada
Ter como prêmio:
Banho de cachoeira.

terça-feira, 22 de julho de 2008

profecia

Sempre tem um dia
Em que revirada a cama
É cumprida a profecia.

De saliva e vontade
Arrancada do sono
Do que era saudade.

Na brancura dos panos
O escuro escondia
Um futuro incerto
cheio de danos.

Dormente de sol
A alma aquecida
Promete o som
Da profecia atendida.

domingo, 20 de julho de 2008

SOMANDO

Prefiro as somas
Às diferenças.
O contato
Ao recato.

Bato o pé pela vida
beijando-a todos os dias
como as mães aflitas
que morrem de medo
de ser esquecidas.

Se sorrio na terça,
E a luz se acende
Repito na quinta,
Minha dose de gente.

Recolho minhas armas
Deste breve combate
Sem tiros nem mortes:
Apenas tumulto
De espadas com sorte.

Aguardo então
Calma
sem sobressalto
O próximo passo
De salto alto.

domingo, 13 de julho de 2008

Ainda não aprendi
Qual o som de um jogo
Com ganho no amor.
Como apurar o ouvido
Pras notas de valor?

Palavras cruzadas
Silêncios prolongados
Fico esperando
sou cão acuado.

Não consigo vestir
Escudo protetor.
Dispo-me sempre:
Mostro minha cor.

Esqueço a dor
De todos os tombos
Rasteiras e socos
Que tenho levado
Na espera do amor
Que está encantado.

etnereocni

Já houve um tempo
Em que Sagitário
Cobrava-me coerência.

Com sua frieza de eqüino
Não suportava que eu
Era pura inocência.

Ventos passados
Caminhos desviados.
No atropelo e na calma
Aprendi a aceitar
Minha natureza
De quem só vive de alma.

Alimento demônios
Com doces e sonhos
Arroz, feijão e alguma pitada
De uma qualquer
pimenta inventada.

Vejo bolhas de sabão.
Desmanchando-se
Rápidas, incolores
Sumindo no chão.

Derramo lágrimas
Como quem vê o jornal
Mas não lê suas páginas.

Sim, sou toda incoerente.
Hoje me alegro:
Sinto-me gente.



quinta-feira, 10 de julho de 2008

indiferente

Quem entende
Pessoas que só aparecem
Quando a gente não atende?

É possível explicar
Que doçura
raramente
tem lugar?

Indiferença
Alimenta vontades
Aumenta a aposta.

E quase sempre é a resposta.
A perguntas nunca feitas
Na hora certa.

É ela quem deixa
A porta entreaberta
Pra quem só entra
Se não enxerga
Nenhum sombra
Nenhuma fresta.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

removendo

Cansei de cortar o cabelo.
De dizer: “só as pontinhas!”
E sair quase nua
Sem pêlo.
Mas é preciso limpar
O lixo que se forma
(na cabeça)
E que te torna
Um depósito de nada.
Coisa sem forma.
Já não crio plantas
Pra não ter que arrancar
Folhas mortas.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

descrevendo

Já disse e repito: é pra não arrancar meus próprios cabelos que escrevo.

Escrevo quando já não cabe em mim uma dor que dói nem sei porquê.
Escrevo porque as palavras que saem de mim, lavadas em tristeza, são como a chuva que precisa chover, pra aliviar a tensão, que entre as nuvens, vi crescer.

Escrevo pois não sei esperar. Sou o tipo que enquanto espera, pára de respirar. E enquanto escrevo, deixo o ar entrar.

Escrevendo faço um carinho em mim mesma, dou-me tapinhas nas costas, me consolo do vazio e da melancolia, que enchem alguns dos meus dias.

Escrevo porque me apavora o tempo, que veloz e rasante, me paralisa qual cimento.

Escrevo pra lembrar, e escrevo pra esquecer. Lembrar o que é bom e lembrar que nem tudo passa. Esquecer? O que não passa.

Escrevo porque são as palavras minha tinta, não sei pintar, mas sei que dor se pinta.

Escrevo pra enxergar o que ainda está por vir, pra me ver de fora, e saber o que passei e o que senti.

Pra refrear o impulso suicida de quem só sabe se jogar de olhos fechados, no colo incerto da vida.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Um dia acaba
A sina de passarinho
Que vive de migalhas
Mas nunca enche seu ninho.

domingo, 29 de junho de 2008

fim de junho

Se a vida aparecer
Toda se rindo
Te fazendo graça
Aceita.

Feita a promessa
De amor leve
Fumaça e risada
Entra nessa.

Se o caminho
For o chão branco
Ao lado de uma taça de vinho
Não pensa
E deita.

Não pensa:
Amanhã
sempre chega.


Joga todas as fichas
No jogo da vida
Que acontece agora
De todo o resto?
Desliga.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

fabi recebe

Meu melhor e mais querido amigo, Caju, escreveu essa linda poesia pra mim. Não pude deixar de publicar. Aí vai:


"A dor que ao homem comum faz gemer
Ao poeta, faz escrever
A faca que sem pingar qualquer gota de sangue no chão
Ao poeta, é pura inspiração
A tristeza que paralisa, que transborda o rio de lágrimas
Ao poeta, resulta em páginas.
Cada um sofre no seu tempo e a sua maneira
Talvez o poeta, para manter sua saga, a vida inteira."

quarta-feira, 25 de junho de 2008

ciber reflexões

Tenho pensado bastante sobre o mundo virtual, mais exatamente sobre o já indispensável MSN.
Ou ainda: sobre a personalidade que assumimos na frente de uma tela de computador. Ali, falamos pelos dedos rápidos que percorrem o teclado, disparando toda sorte de insanidades que jamais sairiam da boca num contato cara a cara. No MSN tudo é permitido. A distância física e a possibilidade de pensar um pouco antes de digitar respostas nos encorajam a sermos outros. Ou apenas nos tornamos um pouco mais do que realmente somos.
O mundo virtual nos autoriza a obscenidade, o descaso (quem nunca deixou o outro esperando por uma resposta?), a fantasia, e o mais alarmante: a certeza de que, ao vivo, seguiremos nos tratando de forma recatada e polida. Cínica. Viramos um bando de cínicos.
Não consigo deixar de fazer um paralelo com o álcool, que nos “libera” por algum tempo, e depois somos perdoados por nossos atos insanos. Claro, sempre fica a ressaca, agora, virtual...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

hace frio

Foi o frio
Que congelou meus pensamentos
paralisou minhas mãos
anestesiou meus sentimentos.

De repente
Tudo parou
No zero de um ponteiro
Da hora que passou.

Olho pro céu procurando
Passarinho que voou
Sem encontrar seu ninho
Perdido ele cansou.

Imóvel no inverno
Sem chão
Sem cobertor
Passo agora os dias
Esperando algum calor.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

real life

De mansinho ela chega
Faz seu caminho entre coisas
imóveis num tempo
Que agora acabou.
Ganhando espaço
Derrubando pedaços
Daquilo que a gente
Nem lembra que foi.
Sacode saudades
Te vira do avesso
Sem perdão
nem recomeço.
Onde ficam as frestas
Faz ela sua festa.
Esconde o caminho
Brinca contigo
Agora tu
é o bobinho.
E sem saber
Ficas pulando
Tentando pegar
Peteca invisível
atada no ar.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

sem coragem de dar oi

Qual o curativo
Pra tapar buraco
De coração partido?
Qual o consolo
Pra quem amou
Sem nenhum retorno?
O que dizer de quem
Apenas logrou sonhar
Sem nunca jamais
Ter um ombro
Onde se apoiar?
Terá sido doença
Um amor que te invade
Sem pedir licença?
Como tirar
De ti
Um desconforto
Que te deixa sem saber
Se chora ou se ri?

a verdade a teus pés

É quase uma obsessão. Eu observo pés. Observo, e observo.
Pra mim, é nos pés que está a verdade. São eles que revelam as pequenas incorreções ou mesmo a falta de caráter que o rosto consegue esconder. E por isso eu não consigo desviar meus olhos dos pés alheios. Sou curiosa, e sempre que vejo um pé à mostra me ponho a procurar neles tudo o que o resto da pessoa oculta.
A verdade dos pés não se resume à formação anatômica. Há todo um mundo ligado a eles. A maneira como se colocam quando a pessoa está deitada, descansando. Ou o modo com que brincam no ar, pendendo de uma perna cruzada. Ou ainda, os movimento feitos com força ao pisar o solo. Sem falar nos sapatos que vestem os pés. Acho até que a minha (obsessiva) paixão por sapatos decorre da obsessão que tenho por pés. Também os sapatos são reveladores.
Muita gente já se redimiu comigo por causa dos pés, sem nem imaginar, é claro. Um dos casos que mais me comove é o daquelas pessoas aparentemente agressivas (e porque não dizer: amargas mesmo), mas donas de pés desenhados com meiguice. Parece que o pé tem uma vida paralela àquela pessoa.
E digo mais: o pé preserva o que a vida já destruiu.

sábado, 7 de junho de 2008

ando só

Ando só
E parece que só andarei
Revendo caminhos
E amores que deixei.

Memórias passadas
Borbulhos de paixão
Noites com sorvete
Cobertas pelo chão.

Já vivi com dor
Matei a morte
E ganhei alma nova
Pisando o tempo
Num mundo de flor.

Agora espero
No meio dos livros
Que a solidão vá embora
Em largos passinhos
Deixando pra mim
Portas abertas
E um pouco de som.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Variação de flores
Desejos e sabores
Sorver o novo
Sem deixar o antigo
Gozar cada minuto:
Um sonho de amigo.

Quem sabe quantas estrelas
Habitam meu pensar?
Cada qual com seu brilho
Começo a voar.

Vontade-surpresa
Frio e preguiça
Às vezes
Só café esquenta:
Uma noite em claro
Quem agüenta?

Por certo o devaneio
Terá lá ficado
Em algum canto do quarto
Perdido
Ou guardado.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Mist!

Não esquece
De manter o foco
A vida não se move
Em monobloco.

Compra sal
E prepara a sopa
Deixa ferver
Enquanto tiras a roupa
Do dia que foi
Puro tormento.

Os temperos te lembram
Algum sentimento
Perdido na infância
Inocência perdida
Não deixa lembrança.

Espera que o sol chegará
Com suas cores vibrantes
Aquecendo teus pés
Alegria de instantes.

o susto

Diante do susto
Não há maturidade que persista:
Virá o surto,
Por mais que se resista.

O descontrole
Não tem controle.
Surge berrando
Qual criança com fome.

Esquece o curativo!
Fratura exposta
Só tempo cura
Ou reforça a aposta.

sábado, 31 de maio de 2008

Wunder

Um dia se batem
se encontram sem saber
quem eram
e passam
imediatamente a se querer.

O amarelo sozinho
Perde seu vigor
Precisa do vermelho
Pra fazer do laranja
A única cor.

Isolado no deserto
Mal sabe da água
Mar sereno, aberto.

Basta mergulhar
Pra esquecer
que era na areia
Que costumava andar.

Sem saber da existência
Vivia de viver
Avistado o outro lado
Pulou o muro
E viveu de querer.

Parece loucura
A tal sensação,
Quando um novo caminho
(re)vira teu chão.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

SEM MENTE

Malditas sejam
Todas as dúvidas
Que corroem pensamentos
Como velhas estúpidas.

Adeus ao tormento!
Para certas mágoas
Não bastam lamentos.

Lampejos de luz?
Algum desalento.

Malditas sejam
Aquelas lamúrias
Que invadem as mentes
Das almas escuras.

Benditos os erros
Que crescem em gente
Nascida em solo árido
Forte na semente.
Sem pátria nem matriz
Teimosa no salto
Firme na raiz.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Eustáquio

Na época eu morava em Pelotas e freqüentava, religiosamente, a loja Studio CDs, onde o Rogério, o vendedor, me atendia barbaramente. Trocávamos idéias sobre música e ele sempre me indicava coisas novas.
Um dia cheguei lá querendo algo de novo, e ele me apresentou a Joss Stone. Não levei muita fé, tão jovem e tão branca... Então o Rogério esqueceu do meu gosto? Mas pedi pra ouvir o cd, não custava nada afinal de contas.
Ajustei os fones na cabeça e aquela voz quase sussurrante da Joss invadiu meus tímpanos com “Choking Kind”. Algo se acendeu em mim, fiquei emocionada. De repente a vida ganhara um novo brilho. E tive a idéia de ligar pro Eustáquio.
O Eustáquio era um carinha que eu conhecia desde a época do primeiro grau. Apesar do nome esquisito, ele sempre foi dos meninos mais apetitosos do colégio, daqueles que a gente só deseja, de longe, porque só as gurias do segundo grau (loiras, lisas e lindas) ficavam com ele.
Pois bem, nada como o tempo pra gente aprender a se sentir loira, lisa e linda, mesmo sendo morena e crespa (mas igualmente linda). Um dia encontrei o Eustáquio perdido num bar, aquela coisa, e ficamos conversando longamente. Até que rolou uns beijos e uma troca de telefones. E eu acabei na Studio CDs ouvindo Joss Stone.
Liguei pra ele sim. Saímos pra tomar um vinho. Ele me achou metida porque eu entendia muito mais de vinho do que ele...
Então vá Eustáquio, agora eu tenho a Joss!!!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

in a sulamita mood

Banheiro vazio
Mal iluminado
Paredes riscadas
Papéis pelo chão
Atiram em mim
Por 30 segundos
Solidão.

Quase correndo
Volto ao salão:
Sulamita se apresenta
acendendo em mim
um lado só tensão.

Cada copo disfarça
Um motivo qualquer
De uma qualquer traição.
O coração é um só
Ainda que perdido
Sem rumo e sem mapa
No peito arfante
De algum fanfarrão.

Percebendo o perigo
De um amor que nasceu
Mal concebido
Numa noite de breu
Tento correr
Fazendo de conta
Que pouco me importa
te encontrar ou te ver.

É um só o coração
Pequeno ou grande
Não há muito espaço:
Só cabe um amor
A cada estação.



segunda-feira, 26 de maio de 2008

do ar

Muitas são
As surpresas da vida.
Pra quem não sabe
Ou não vê
A própria medida.
Há pessoas
Que te dão sempre boas-vindas.
É preciso doar:
Sorrisos,
Abraços apertados,
Olhares de conforto,
Carinho desprendido.
Até sangue pode ser doado:
Pro pai de uma amiga
Num sufoco danado.
Não espere nada em troca:
A vida se encarrega
Da retribuição, pra quem fez e faz
Tudo de coração.

sábado, 24 de maio de 2008

en rolada

Não dá pra fechar sem perder.
Ficam sempre farelos
Perdidos no caminho,
Migalhas do incerto
Comida de passarinho.

Panqueca enrolada
Tem metade de recheio.
Tivesse ficado aberta
Seria inteiro
E não meio.

Pipa empinada
Fica presa ao carretel
Estando ela solta:
Em algum lugar do céu.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Quem sabe o preço?
De passar o tempo sem pressa.
Andando com pés
Ou de ponta-cabeça.
Quem pode medir
A distância entre duas vontades
Que estranhas
Se perdem sem maldade?
Poucas são as apostas
Escassas as respostas.
Tanta energia
Desperdiçada
Deixa a vista
Turva
A visão:
Embaçada.

smoke gets in my eyes

Não existe incêndio sem fumaça
Nem mocinha
Sem alguma farsa.
Tudo passa:
Alergia, cólica,
Estado de graça.
O tempo não poupa,
Atropela
Arranca as veias
As velas
E a roupa.
Perene só as notas
De uma música solta.
Eternas:
Apenas as palavras
Que precisaram ser escritas
Pra abafar uma voz
Que não sabe se cala
Ou se grita.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

lua nova



Lua nova lá no céu
Surgiu pra mim
Qual presente inesperado.
Sua luz encantadora
aceito de bom grado
Atiça-me sorrisos
Sem esforço e sem preparo.
Mal sabe o quanto pode
Quando aparece
por acaso
num domingo pela tarde.
Quando cheia vai embora
Levará consigo
Memórias acesas,
noites claras e beijos sem demora.







domingo, 18 de maio de 2008

BLUE (BERRY) NIGHT

Podes te esconder
Na solidão insólita
De algum submundo
Repleto de gente
Música alta e cerveja quente.
Ela sempre aparece
Em algum momento ela te pega.
Espera chegar a hora
Em que o sono não chega
Aproveita a dor de cabeça
E te deixa no bagaço
Letargia e boca seca.
Recebe-a, então.
Deixa que entre.
E aproveita
Pra chorar
Todas as mágoas
E pequenas tristezas
Que a obrigação da alegria
Te fez abafar.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

incendiária

Ando cansada
De tanta seriedade
preocupações pequenas:
imagem e idade.
Desejo mais
Elevadores incendiados
Por vontades e sonhos
Jamais realizados.
Quero viver muitos
contos inventados
e até alguns
romances roubados.
Que o moço do meu lado
Permaneça em silêncio
Roubando-me o ar
Num beijo calado.


terça-feira, 13 de maio de 2008

Certa é a aurora
Que irrompe quase teimosa
Mesmo quando tudo
Aponta sua hora.
Certas são as folhas
Insistentes em nascer
De uma terra que se molha.
Certo é o caminho
Que se forja no passeio
A par de todo
E qualquer devaneio.
Certa é a cura
De todas as almas
Que se guarnecem
De candura.
Certa é a permanência da vida
Que renasce todas as manhãs
De ar úmido e luz tímida,
Como a certeza que habita em mim
De que o caminho
é só de ida.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Uninspired

No meio de tanta bagunça
Perdi a inspiração:
Dias pesados
De alta tensão.
Busco consolo
Em notas de jazz.
Tons amenos
Mostram-me algo
Ainda existe
Algum chão sob os pés.
Toda carência
Parece-me vã
Quando penso que um dia
Ouvi Djavan.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Passam-se os dias
Correndo, voando,
Às vezes até
atropelando.
Não deixo
Contudo
De ver alegria
Em breves momentos
De sutil sintonia.
Meus novos amigos
Aparecem aos bandos
Trazendo consigo
Ventos mais frescos
E sabores mais brandos.
Na passagem das horas
Restam memórias
Pintadas com cores
Que aguçam histórias.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

metamorfose

Arrepio na nuca
Preguiça no corpo
Uma noite inteira
Parece-me pouco.
Vivo um romance
Com meu cobertor
Me cobre, me aquece
Esconde o pijama
E minha falta de cor.
Fico em casa
De abrigo e chinelo.
Vestida assim
Nem sei mais quem sou.
Agora está claro:
O inverno chegou.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

?

Todo dia a gente aprende
Que viver é hoje
E sempre:
Buscar um carinho
Aceitar o conselho
Daquele amigo
Que te viu
Pequeninho.
Cada dia é uma resposta
às perguntas que fizemos
Quase em tom de aposta.
Não existe outra escolha
Senão ser
E viver
Somente aquilo
Que se gosta.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

fugaz

Quem pode me dizer
Qual a conseqüência
De um suspiro inesperado
Num momento fugaz
De total efervescência?
Qual será a reação
De quem mal percebendo
Atreveu-se a perguntar
Como deu-se aquela chama
Que ousou incendiar?
Provocada por madeira jovem
E combustível já guardado
Brilhou qual fogo intenso
consentido e vivo
Deveras provocado.

umidade

Dia de chuva
Umidade colada no corpo
Penso no sábado
Sofro por pouco.
Quem sabe o dia
Chega de novo
Trazendo o vento
Que seca o mofo.
Mazelas da vida
Não poupam
Os loucos
Que passam os dias:
Intensos e roucos.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

vai e vem

Carência que vai
Alegria que vem.
É preciso Viver cada uma
Como quem corre
Pra pegar o trem.
Não rejeitar a dor
O cansaço e o descaso
Pra saber aceitar da vida
Os presentes e os abraços.
Os beijos quase roubados
De príncipes do acaso.
Doar pra receber
Acreditar pra não sofrer
Cantar pra amanhecer
Dançar pra esquecer
Sorrir, como quem descobre o segredo
da delícia que é viver.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

romântica

Penso no moço
De sorriso iluminado,
Tênis colorido
E paletó bem cortado.
Conversa comigo de lado
Deixando-me em dúvida:
Indiferente
Ou acanhado?
Seus olhos bem estreitos
São um imã encantado.
Que me puxam bem de leve
E não me dão nenhum respaldo.
Não paro de pensar
No sorriso iluminado
Desse moço que um dia
Vai ser meu bem amado.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

dez anos

Tento imaginar
Quem serei
Em dez anos.
A conclusão:
Não sei.
Tento achar algum sentido
No tempo
Que certamente terei perdido.
Em quantos projetos
Terei cumprido.
Como estará meu cabelo?
Escuro
Ou descolorido?
Quem será a pessoa
Que comigo tem vivido?
Terei eu realizado
As fantasias do Cupido?
Terei eu recuperado
Os amigos
E os livros perdidos?
Serei capaz de rever
Conceitos já antigos?
Terá meu lugar no mundo
Aumentado
Ou encolhido?

domingo, 13 de abril de 2008

bons princípios

de tudo que é rude
quero distância:
grosseria gratuita
zero de conduta
problemas na infância.
quero pra mim
só gentileza.
gente que sabe
portar-se à mesa.
pra mim, quero flores
intenções maduras
programas alegres
sem dissabores.
mais bela é a vida
quando adulta
rica em conteúdo
cheia de cores.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

anjo amigo

Há dias de pouco
abandono
Carência e até
Maldade.
Mal que um dia acaba
Pelas mãos de um sábio
Amigo
Que, por nada,
te abraça.
Bendito seja ele
Anjo da guarda
Que estende o tapete
Enquanto tu passas.

terça-feira, 8 de abril de 2008

chico & stones

Uma delícia é
Estar inspirada.
Ver em cada fato
Uma nova charada.
Viver frente
E verso.
Dar espaço pro caminho
Pro frio
E pro mormaço.
Ouvir Chico
E talvez Stones.
No mesmo dia
Mudando nomes.
Revirando a casa
Matando a fome.

imoral

Não nego o que sinto
Sou viciada
Imoral
Tarada.
Aceito que ganho
E dou o que quero.
Não tenho paciência
com lero-lero.
Repressão eu dispenso
Qualquer forma de molde,
Me deixa em suspenso.
Contradição é vida
Em movimento.
Sadia
Bandida.

domingo, 6 de abril de 2008

fada madrinha

Mil passos
Corridos.
Apressados
Foram outrora
Razão de fracasso.
Corria muito.
Sentia cansaço
De olhar
Para todos os lados.
Perdida
Longe de mim
Senti
E segui
O meu coração.
Não tardou a chegar:
Lucidez!
Fada madrinha
Varinha brilhante
Mostra-me sempre
A melhor direção.

padrão

vou me espremendo
busco um lugar
meio apertada
na multidão.
chego afobada
e vejo:
loiras em bando
em um esquadrão.
lindas e magras
de salto agulha
só conhecem uma:
beleza padrão.
nada as difere
cheias de bronze
igual tom de pele.
tomam os prédios
por passarela.
se a moda mandar
usam até
roupa amarela.
que triste!
total desespero
seguir todo dia
o mesmo modelo.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

FORO CENTRAL

Enorme é a espera:
perde-se a hora.
Gente que passa
anda apressada
de um lado pro outro
remoendo suas mágoas
desfilando mau gosto.
Vida suspensas
digerindo sentenças.
Prazos, pedidos,
Recursos sem fim.
Velhinhos morrendo:
Longa é a demora.
Urgências são pra já,
Pra agora.
Caos instaurado
Gente sofrendo:
Com a falta de tudo.
E a poeira crescendo.
Sufoco mil lágrimas
Confesso.
Acesso à justiça?
Um lento processo.

terça-feira, 1 de abril de 2008

social

Há necessidades
E há direitos.
Descumpridos,
Violados:
Estreitos.
Dependentes e carentes
Vivem à margem.
Absoluta carência,
Dolorosa insuficiência,
Não vêem atendidas
Suas mais básicas urgências.
Sem teto
E sem chão,
Choram todo dia,
Essa falta de pão.

domingo, 30 de março de 2008

sem tom nem jobim

te quero
não sei se a ti
quero a tua fantasia
que me provoca alegria
e espera ansiosa pelo dia
em que tua presença será certa.
quero a poesia
que tua pele dourada irradia.
o sol que vejo iluminar-te
acende assim
minha pressa,
minha agonia.
te quero.
e esperar me dói.
(08/10/07)

quinta-feira, 27 de março de 2008

É preciso achar o caminho
E andar sem medo
Com fé e coragem
Fazendo certinho.
Rompendo barreiras
Vencendo disputas:
De tempos em tempos
A vida te escuta.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Queridos amigos

Faço hoje uma pequena pausa na poesia pra comentar a série “Queridos Amigos”.
Como começo gostaria de lamentar que a Globo só faça coisas tão boas de tempos em tempos. Essa série (e algumas outras) mostram a capacidade de fazer programas de qualidade, autênticos, verdadeiros, enriquecedores, e, sobretudo, extremamente humanos. Invariavelmente eu choro, no meio e no final de cada capítulo. E sei que não sou a única.
Parece-me que essa característica de humanidade real é que agrada tanto às pessoas. Ali aparecem histórias de vida verdadeiras, cheias de sofrimento, de angústias, de dúvidas, de desespero, mas também de descobertas, retomadas, recomeços.
Gosto muito da personagem Lena, brilhantemente interpretada pela Deborah Bloch. A Lena é de verdade. Já apostou todas as fichas num homem que foi covarde (soa redundante, né?), fez concessões inadmissíveis (por culpa) e pagou um preço bem alto. E mais: Lena é artista, pinta e tem uma lucidez assustadora.
Já o Ivan, o covarde, não merece nosso rancor. Ele escolheu viver enclausurado numa vida medíocre. Não pensem que alguém escolhe isso assim, voluntária e conscientemente. A gente faz escolhas usando as ferramentas de que dispõe. Para alguns, há poucos recursos, especialmente emocionais. Digo isso pra mim mesma, óbvio, tentando entender coisas que eu fiz e que hoje me parecem tão insanas.
E o Tito? Que alma pura! Um idealista de verdade. Alguém que vai além do discurso. Coitado, ele acredita na revolução. Não sabe ainda que o ser humano é meio estragado, nunca é completamente bom.
Não posso deixar de mencionar o núcleo GLS: os travestis meigos e dóceis e a dona Iraci, agora tão triste com a morte do seu Alberto.
O que me prende aos “Queridos Amigos” é que todo dia, a cada capítulo, eu aprendo alguma coisa, da vida e de mim.
E prá encerrar: o que é aquele cabelo asqueroso do Pingo???

terça-feira, 25 de março de 2008

"3 minutos con la realidad"

Quando pesa a realidade
Sento e escuto
Os barulhos da cidade.
Vizinhos barulhentos
Debatem o circo do momento.
Preciso das letras
Do papel
E das canetas.
Pra entender que se passa
Pra desvendar o sentido
De não sermos
Só carcaça.

segunda-feira, 24 de março de 2008

PRINCESAS

Batem perna na calçada
Usam micro-sainhas
Cobram quase nada
Embalam suas vidinhas
A música brega
E porrada.
Filosofam longamente
Pouco sabem
Do que sentem.
Dormem de dia,
Saem à noite
E esperam
A próxima enchente.

domingo, 23 de março de 2008

dez páscoas

Diferença não há
Entre vermelho e azul
Ambos belas cores
Vivas e permanentes
Como eternos amores.
Uma década de Páscoas
Saboreada com sol
Doída de dúvida
Entre o bem e o mal.
Dez anos passados
Um passeio ao sul
E a vista do rio
Mostram sorrindo:
Eterno é o amor
Que segue existindo.

sábado, 22 de março de 2008

sábado

Vidas autênticas
Recheadas de realidade:
Dor, medo, saudade.
Lições aprendidas,
Verdade espalmada:
Conversa encerrada.
Chega o momento
De lamber as feridas,
Distrair a visão,
dar a partida:
rumo a convites
em cima da hora.
Sem compromisso
Sem demora.
Agitam-me músicas
Com toques de cólera.

sexta-feira, 21 de março de 2008

só pra me ver passar

Tem um moço que me espera
Todo dia
Espiando na janela.
Fiel e paciente
Sorri todo contente,
Admira meu andar.
Espera atentamente
Meu passo sério
e freqüente.
Alegra meu fim de tarde
Me faz importante:
Sentir-me a manequim na passarela
Certa de que o aplauso
É todo pra ela.

sexta-feira santa

Hoje acendi uma vela
Pro menino Jesus
Avessa ao cristianismo
Reconheço:
Foi um espírito de luz,
Como tal
Incompreendido
Acabou pregado na cruz.

quinta-feira, 20 de março de 2008

o coelho de alice

Da horta do dia
Há muito que colher,
Corro, me apresso
Sinto o sangue correr.
Projetos e planos
Tenho pra mil anos.
Vastas idéias
Largos tormentos
Pequenos pássaros:
Não os lamento.
Do coelho de Alice não fujo
Fico e enfrento,
Entro no poço
Mergulho e agüento.

sexta-feira, 14 de março de 2008

A demora

Acontece:
Passa o tempo
E não sobra nada.
Como os pássaros
Que juntos
Batem em revoada.
Tudo passa.
E eu, empacada.
Sentada na dor
Remoendo a pancada.
Cultivando a saudade,
Essa amiga malvada.
Nem que eu comesse
Apenas flores
Pra facilitar a digestão
Não funcionaria:
Até meu estômago
É só coração.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Para Luiza, pelo seu aniversário.

Prá minha pequena diva,
pura em vida,
cheia de luz e de som,
quero dar uns versinhos,
vou tentar achar o tom.
Brilha mocinha,
toda o encanto da tua doçura,
alegrando nossos dias
com tua enorme
ternura.
Chega pertinho
Faz tuas manhas
Inventa caretas
Espera o maninho.
Te quero comigo,
É sempre tão bom!
Assar um bolinho,
Dançar no meu quarto
Passar um batom.
Tua dinda quer-te por perto,
Sempre menina
cheirinho de flor
aurora de vida,
Esbanjando amor!

quarta-feira, 12 de março de 2008

CREIO

Eu não vou virar
A velha amarga
Plena em lembranças
Que anda pela casa,
Meio manca
Planejando sua vingança.
Eu ainda tenho ESPERANÇA.
Espero a vida atenta
Questionante
Feito criança.
Eu espero AMOR.
Creio em mãos dadas
Manhã de sábado
Em se entender
Sem falar nada.
Eu acredito em abraço
Cheirar o pescoço
Dormir amassada
No peito do moço.
Eu quero um amor
Em forma de gente
Que acredita e não mente
Se fica calor.
Acredito no passo
Da dança que passa
Pela voz que não cala:
Palavras de amor.

terça-feira, 11 de março de 2008

Não quero inteiro
Basta meio
Meio-Dia
E a luz dourada
De Adônis:
Visceral.
logo, logo
Recupero o fio:
Paraíso astral.
Cheiro de mato
Equilíbrio forçado
Ombros pra baixo
Sonho abafado.
Foco num ponto
Mantenho o trabalho
Do corpo cansado
Que pede um contato.
Brilha uma luz
instante de paz
É Adônis de novo:
Só ele é capaz.

momento marilyn

Manhã sonolenta,
Cabelo rebelde
Mundo virado
Estômago embrulhado.
Falta energia
Some a alegria
De horas passadas
Em camas reviradas.
Pão de queijo
Toda madrugada.
Saudade das Páscoas
Sem chocolate
Só erva (mate)
e mais nada.
Restam algumas
Cartas não enviadas:
nuvens camufladas.
Quero ver o fim do dia.
A verdadeira diva

Afunda em melancolia.

segunda-feira, 10 de março de 2008

sem nome

Toalha amarela
Cortina prateada
Ando mesmo
Pouco inspirada.
Farejo nas ruas
O plim salvador,
cheiro de luz
Um fio condutor.
Que me leve às palavras
Ou mesmo ao amor.
É muita vida
Que chega
Energia que brota
Que me desassossega
Ontem, domingo,
Ouvi um pouquinho
De música brega.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Essa postagem é uma homenagem ao último amor platônico que tive! Ou ainda: não tô inspirada pra escrever e aproveitei um texto antigo.

Aquela música continua na minha cabeça. Parece um pano de fundo pra todo resto que vai acontecer. Também penso em outras coisas, me ocupo, tento trabalhar, ler, comer, fazer xixi. E a música lá, no fundo, como trilha sonora permanente.
Claro que ela tem um motivo para estar causando esse estardalhaço, não apareceu do nada. Nada aparece do nada (quanta filosofia!). Ela está atormentando minha cabeça por causa de uma fantasia que eu criei. Fui que eu que a coloquei lá, a batucar que nem os macaquinhos da propaganda da Duracell (essa só pra quem foi criança nos anos 80).
Só que não agüento mais a fantasia e a música menos ainda. Tenho me perguntado se a gente realmente precisa de tanta fantasia pra viver. Viver em si parece bastante simples. Porque será que o cérebro recorre a tantos artifícios? Será que é o cérebro que é carente e não a pessoa que o carrega? Será que falta de amor pode ser resolvida como uma psicose qualquer? Toma-se lítio ou o ácido da hora e tudo se resolve.
O Nelson Rodrigues já dizia que tudo é falta de amor. Essa seria a causa de todos os males.
E parece que a fantasia vem pra tapar esse buraquinho. A coitada bem que tenta, mas não consegue. Porque é que nem band-aid: resolve na hora, mas depois só incomoda.
Eu quero me livrar da minha fantasia, ela, porém, parece ter gostado de mim. A mim me parece que a minha fantasia atual é uma das mais graves: eu fantasio com uma pessoa! Não faço muita idéia de como é essa criatura, no entanto, já fiz planos, sonhei, imaginei, supus, deduzi coisas que eu não tenho como saber. De novo a música, agora com uma pertinência assustadora: “como pode alguém sonhar, com o que é impossível saber?”
Senhor, livrai-me de mim! De todas as partes do corpo, o cérebro é a mais rebelde. Não há controle. Nem mesmo o químico, que é só um contornar o estado original. Imagine deixar um doido sem remédio!?
Ai de mim que não tomo remédio! Fico aqui peleando com a ansiedade, negociando com a angústia, e nem sei dizer quem ganhou no fim do dia.

quinta-feira, 6 de março de 2008

iracema

Não espera que eu te peça agora
Pra que fiques
Sei que queres ir embora.
Leva contigo tua dor
Tua mágoa
E essa falta de cor.
Tu, que não choras
Não lamenta agora
A falta de amor.
Tu, que não sabe se quer
Não lamenta agora
O pedaço de ti
Que não quer ser mulher.

quarta-feira, 5 de março de 2008

devaneios de fabi

no meu mundo imaginário
tem mais música e menos barulho
cartola, chet, charlie (o haden).
gente feliz
descomplicada
emocionada.
tem coragem
nunca medo,
de sentir sentimentos
de mostrar doces tormentos.
no meu sonho,
cabem mais flores,
mais cores,
mais sabores.
ruas mais tranqüilas
calçadas perfumadas
bocas caladas,
vontades desveladas.
Céu claro
Crianças brincando
Suas infâncias:
Preservadas.
Há saudade.
Samba, saliva
Lealdade.
Entram amores
Desejos
E alguns
Poucos
pudores.
Muito mais sol
E menos dissabores.
Música, música, música
Tom, Ella, Jorge
Muito mais ardores
Gente que não foge.
No filtro de fabi
passa um mundo
O resultado?
Ninguém sabe!

terça-feira, 4 de março de 2008

eu quero

Querer envolve sempre
E pelo menos
Duas vontades.
São desejos somados
Caminhos enlaçados
Amigos que ficam
compartilhados.
Querer precisa dos dois
São ambos mundinhos
Fundidos em flor.
Querer requer sempre dois
Duas pessoas que se querem
Sem deixar pra depois.

segunda-feira, 3 de março de 2008

primeiro plágio



faz parte do jogo:
fui jogada na rede
me jogaram confete
vibrei
fui tiete
das minhas letrinhas
agora espalhadas
fiquei assustada:
mal comecei
já fui plagiada!

domingo, 2 de março de 2008

sentimento não pensado

Não funciono pensando
Sentimento não se pensa
Vou somando
Velhos amores
Salas sem flores
Comidas
sabores.
Passo a vassoura
Tiro a sujeira que ficou
Poeira que se acumulou
Palavras sem sentido
Experimento um vestido
E saio pro baile.
Erro alguns passos
Engano o parceiro
Faço de conta
Que nem notei
O estrago que foi
E me recomponho,
Sei que tentei.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Alta Tensão

Sim, essa sou eu
brincando de poeta
dançando na festa
ou assando um pão.
Fazendo petições,
tricotando uma manta,
ensinando alemão.
Pregando susto nos bobos
que me tem
por bicho-papão.
Não se assustem, mocinhos
Meninas guerreiras
São gente
De carne
De pele
e de Alta Tensão.

reflexões de fabiana

Os últimos dias foram de euforia. A minha primeira publicação mostrou-me uma série de coisas importantes. Dentre elas, quem são as pessoas capazes de vibrar com uma conquista que não seja sua (e quem não vibra, via de regra, é porque também não conquista nada). Mostrou-me aquelas que nunca me deram bola, mas que agora quiseram tirar algum proveito dos meus mínimos minutos de fama...
E o mais importante: mostrou-me o silêncio. O silêncio daqueles que não tem nada pra dizer, ou não querem, ou simplesmente não conseguem.
Tenho cá pra mim (eu, ser tagarelante) que os silêncios são muito mais reveladores que as manifestações efusivas, mesmo as mais sinceras. A palavra calada sufoca, omitir sentimentos é criar a própria armadilha. É como nunca chorar. E o Nelson Rodrigues já dizia: “Aqueles que nunca choram ou choram muito pouco, acabarão apodrecendo em vida.”
E sobre tudo isso dá pra divagar longamente.
Só mais um pouquinho então! A vida tem me ensinado (e eu adoro aprender) que o risco é sim necessário. Não dá pra se esconder, tem que dar a cara a tapa. Azar de quem te ache maluco. As pessoas criticam iniciativa com muita facilidade; geralmente os criticantes não fazem p...nenhuma por si mesmos, borrados de medo de se expor, de aparentar alguma fragilidade. Tem gente que tem medo de ser gente.
Prá encerrar, preciso fazer um mea culpa e tentar aliviar a indignação que senti com a cena que vou contar agora. Lá vinha eu, unhas dos pés recém pintadas, andando de Havaianas nas imediações do HPS, quando vi que um “tigre” aproximou-se de um rapaz aleijado, todo tortinho, que andava de muletas, com dificuldade. O aleijado tinha duas sacolinhas de super penduradas na muleta. O cara de pau de encostou nele, falou alguma coisa, pegou as sacolinhas e saiu andando. O cara roubou um aleijado!!! E eu andando mais atrás, fiquei abobada, não gritei, não corri. Fico tentando justificar pra mim mesma, o que eu poderia ter feito? Já estava escuro, o cara podia ter um canivete, uma faca, sei lá. Fiquei com tanta raiva, que desejei ser homem (esses rompantes só a testosterna permite), e ninja, e sair correndo pra dar uma voadora na cabeça do ladrão, que nem em filme, sabe? Fiquei torcendo pra ele ter uma diarréia no meio da rua. Mas nem assim me senti menos pior com o que vi.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

letra e rima

Também eu
Alimento ilusões
Quero colinho
E mar sem tubarões.
Quem dera a vida
Seguisse esses padrões:
Passar no concurso e viver
(fazendo trabalhinho burocrático)
Sem preocupações.
Isso não me desanima
Vejo a vida pelos meus olhos:
uma tela em branco
Que vou colorindo
Todo dia
Com letra
E rima.

Agradeço, de todo coração, pelos comentários maravilhosos!

ah, quanta euforia
sair fresquinha assim
feito pão do dia.
toda surpresa
de ser revelada
e ter o retorno:
alma lavada!
elogios e comentários
inflam o ego
da mocinha hormonal
que de fato
nunca foi
nem um pouco
normal.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

CaFé pelA MaDruGAdA

Andar por aí
Receber o que a vida me dá
De graça
Sem pedir
Nem esperar
Nada
Não desejo
mais uma
Farsa ensaiada.
Tomar café
de madrugada
Alegra os sentidos
E deixa as pernas
Cansadas.
Sair pela noite
Despreparada
Pra encontrar
Os amigos
E beber muito
Cerveja gelada.
Conversa solta
Me deixa animada.
Pra que querer mais?
Seria mais uma
Exigência forjada.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Poesia

Velhos odores,
Novas mágoas,
Urticária e azia
Tudo isso
É solucionável
Através de poesia.
Palavra aqui
Rima acolá,
Um pouco de alegria
e...
Voilá.
Pra afastar maus pensamentos
Espantar a tristeza
E sonhar com meus rebentos,
Uso a poesia,
Palavra por palavra,
Renovando a energia.
Pra curar um pé na bunda,
Frustrações e apatia,
Deixo minha dor,
Em forma de cor
E poesia.

sOlo dE PiAnO

Não me vem com esse papo
De me proteger
Daquilo que tu não tens
Coragem de dizer.
Grande erro pensar
Que eu não seria capaz
De apenas escutar
A única verdade
capaz de me explicar:
O coração não escolhe
De quem irá se enamorar.
Não existe compromisso
Mas deves ter coragem
De encarar ti mesmo
Sem desviar o olhar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

BLUES DA PIEDADE (Cazuza)


Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não tem
Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas mini-certezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia....
Pra quem não sabe amar
Fica esperando alguém que caiba nos seus sonhos
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada
Vamos pedir piedade
Senhor piedade
Pra essa gente careta e covarde
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
Quero cantar pras pessoas fracas
Que estão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar os blues
Com pastor e o bumbo na praça
Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade....

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

mocinha que acorda

a toda mocinha
que já acreditou
que precisa de casinha
vestido branco
e bolo assando
na cozinha,
venho dar o meu recado.
nunca é tarde
pra sacar da vida
o verdadeiro significado:
deves ter em ti
teu mais forte aliado.
Teus livros, teus amigos
Tuas vontades, teus pecados.
Deves esperar o amor,
Curtindo o sol, deitada na relva.
Sem jamais esquecer:
é a leoa quem caça
sozinha
na selva.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sem título

Quero ir
Vou chegar lá
Mas antes de pisar no teu barco
Há ainda
Muitos mares
Que preciso visitar.
Não me ancores!
Preciso boiar
Solta na água
Feito menina
Que aprendeu a nadar
Depois de muitos mergulhos
Ondas e estrelas do mar
Posso voltar
E morar no teu barquinho
Enquanto me dizes
Que precisas de mim
Pra aprender a amar.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O outro lado

Surpresa, surpresa!
Um talento foi revelado
A escrita do desespero
Virou céu estrelado.
Tanta agonia, tanta mágoa
Hoje lhes mostro: poemas dourados.
Amigos queridos,
Antes calados
Também aprenderam:
Nunca se sabe
O que há do outro lado.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

RESPOSTA

É PELA VIDA QUE ME CONSOME QUE ESCREVO.
CRÔNICA, BESTEIRA, E ATÉ POESIA.
PORQUE NÃO CABE SÓ EM MIM
TODA ESSA ENERGIA
QUE BROTA, BORBULHA E TRANSBORDA.
O QUE EU SUPUNHA SER ANSIEDADE, HOJE JORRA COMO CRIATIVIDADE.
PRA NÃO ARRANCAR MEUS CABELOS
REGISTRO MEUS PENSAMENTOS.
DE FORMA POÉTICA (OU NÃO) CONTORNO O TEMPO.

O segredo

Quero uma forma mais simples de viver
Preciso parar de achar
que em tudo há
um toque de poder.
As coisas não precisam ter tanta importância
O simples pode ser o nobre,
E o jogo não deve predominar sobre a vontade.
As regras devem facilitar,
E cada dia tem que ser normal.
Aí está o segredo:
aquilo que a gente nem valoriza
é que é tão especial.
Chega de definir
o que se deve e o que se pode.
E nesse ritmo
sou até capaz
de dançar um pagode.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

???


Amor, amora, só cai do pé
Se tá na hora.
Pra que ter pressa?
Se o que é teu
Nunca vai embora.
Palavras, palavras...
Quem agüenta essa demora?
A espera que tortura
Há de conter em si
Algum traço de candura.
Há de trazer consigo,
Aprendizado que perdura.
Não perder a fé
Em si e na procura
A esperança
De encontrar
Em si
A verdadeira cura.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Teu Papel: Mulher

Há dias em que acordo
Virada
Do avesso
Toda fragilidade
Antes coberta
Aparece agora
Feito ferida
Aberta
Choro
Por nada
Por tudo
Por bem
Por mal
E penso:
Será normal?
Então lembro:
Hormonal.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008


Fass mich an!

Às vezes me comporto feito menina
Mimada
Precisando de uma palmada
Por não topar ser contrariada
Por querer ser só
e muito:
Amada
Preciso alimentar meu vício
De estar sempre
Apaixonada
Fantasiando
Imaginando
O cheiro da pele
Cansada
Uma noitada?
Me deixe à vontade,
Não quero ser menos
Só muito
Amada.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Silêncio!

Eu quero silêncio,
E aquela tranqüilidade de pensar sozinha,
No amor que cresce,
Feito sementinha.
Não quero mais falar
Quero o amor, calado
Eu não quero ninho,
mas abraço apertado,

mãos dadas
e uma toca:
Escondida
Porque o amor entocado,
Intocado fica.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Orfeu negro

Meu carnaval foi de paz: nada de samba, nada de fantasias.
Só praia, água de côco e maresia.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O reencontro

O passado volta
Volta e meia
Traz consigo um recado
Daquilo que deu errado
E fica sempre a dúvida: e se a gente tivesse tentado???

Eu quis amar mas tive medo
E quis salvar meu coração
Mas o amor sabe um segredo
O medo pode matar o seu coração
Água de beber
Água de beber, camará
Água de beber
Água de beber, camará
Eu nunca fiz coisa tão certa
Entrei pra escola do perdão
A minha casa vive aberta
Abri todas as portas do coração
Água de beber
Água de beber, camará
Água de beber
Água de beber, camará
Eu sempre tive uma certeza
Que só me deu desilusão
É que o amor é uma tristeza
Muita mágoa demais para um coração
Água de beber
Água de beber, camará
Água de beber
Água de beber, camará

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

I feel so sad, I feel so blue


Hoje conversava com um amigo muito querido, e ele me disse uma coisa muito verdadeira: tudo tem um preço.
Esse é mais um daqueles clichês que a gente ouve, ouve, até que um dia se encaixa...
Falávamos da minha exigência em relação à vida, às pessoas, aos relacionamentos, etc. Ele me dizia que não suporta ficar sozinho, e eu não suporto ficar acompanhada se não for muito bom. É essa minha mania de querer sempre o melhor!
Além disso, não consigo fazer aquele joguinho de mulherzinha burrinha, frágilzinha, desamparadinha...Óbvio que eu também sou sensível, mulher, tenho meus dias de carência, choro quietinha e preciso de colo. Mas não sei fingir, sou muito feliz na minha companhia: não preciso de rede de proteção.
Eu quero é abraço sincero.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Miséria

Agora há pouco fui no supermercado e fiquei olhando as revistas no caixa. Ainda não consigo acreditar que na capa da Caras estava uma foto do enterro do bebê da Sheila Carvalho. O título era algo como: "Sheila Carvalho enterra seu bebê." Confesso que senti náuseas. Não imagino nada mais bizarro...
Que época miserável é esta que estamos vivendo?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

"Telemerketing"

Todo mundo passa por isso: toca o celular e no visor aparece um número confidencial. Do outro lado uma pessoa fala contigo com ares de intimidade, e vai te fazendo mil propostas. Às vezes, são operadoras de telefonia, outras vezes, algum amigo da onça foi quem forneceu teu número, e te oferecem limpeza de pele, cursos de inglês a jato, ou algo de igual importância.
Agora o que mais me irrita mesmo, é o português escorreito e o tratamento usado pelos operadores de "telemerketing": "Senhora Fabiana, vou estar transferindo a ligação. Obrigada por aguardar, Senhora Fabiana. Só mais um momento, Senhora Fabiana. Vou estar conferindo seus dados. Qual o número do seu CPF Senhora Fabiana? Obrigada, vou estar registrando seu pedido, Senhora Fabiana. A operadora tal agradece..." É uma grosseria, eu sei, mas geralmente nem deixo a moça de voz anasalada terminar a frase.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Drama auf Deutsch

Ontem fui assistir “A vida dos outros”, um filme alemão que se passa na antiga DDR. A opressão dos personagens sai da tela, e é impossível não participar do drama. Eu senti uma angústia o filme inteiro.
Vários aspectos são interessantes. Um deles é a já famosa precisão alemã: a capacidade de organizar e sistematizar tudo, pro bem ou pro mal. Outro ponto é que o filme - e todo aquele período entre 1961 e 1989 - mostram o quanto o George Orwell estava certo: ali aparece uma mistura de 1984 e de A revolução dos bichos.
Além disso, a Martina Gedeck, minha atriz alemã preferida, esbanja charme! Pra quem ainda não viu, eu recomendo Simplesmente Martha.
Mas o que mais me impressionou, positivamente devo dizer, foi a capacidade de amor que estava escondida ali no membro da Stasi. E isso é um grande alento pra mim, saber que mesmo em épocas de grandes atrocidades, algumas pessoas mantêm a sua condição de ser humano intacta.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Esquecimento


A maior injustiça que Deus fez comigo foi a de esquecer de me dar uma voz como a da Nina Simone...

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Hoje é dia de festa

Hoje é sexta-feira! É um dia que por si só já tem uma aura pré-festiva.
Eu sempre adorei sexta-feira, mesmo no semestre passado, em que eu passava essas noites preparando aulas que seriam dadas no sábado, num horário em que poderia estar dormindo...
Minha natureza rebelde, contudo, só se alegra com mais um passeio contra a maré!
Toda sexta-feira traz consigo uma espera: pela noite, pelo chopp, pelo sábado, pelas promessas, por um pouco mais de vida.
Vida não falta, e, mesmo assim, há espaço pro tédio. Eu diria que o tédio é a pausa necessária pra não sobrecarregar todo o sistema...É preciso parar o corpo, já que as idéias não têm freio.
Era isso.