sexta-feira, 29 de maio de 2009

explicação pra porteiro

Não costumo tentar esclarecer o que escrevo. São as palavras que ditam o ritmo. Muitas vezes desafinado. Mas me espantou minha leitora mais fiel achar que eu estou deprimida! Fica sossegada, querida, depressão passa longe daqui. Alguma melancolia sim, mas daquela boa, de ficar lembrando por dias um episódio emocionante. Ou uma pitada de nostalgia, saudade nem sei bem de quê, porque não quero voltar nem um dia.
Tenho andado sem inspiração poética, só isso. Porque meus neurônios andam ocupados com coisas bem práticas e pouco românticas, como concluir traduções e escrever uma dissertação de mestrado. Nem por isso, minha vida anda sem graça. Ao contrário, tem cada coisa acontecendo! Uma hora dessas, que nem amigo que mora longe, a inspiração aparece, e há de deixar um rastro de alegria, que só amigo de verdade consegue. Enfim...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

ausente

A poesia anda ausente
As músicas
Repetidas.
Não sei bem o quê
Me agrada o ouvido.

Não pulo capítulos
Sigo a ordem
Onde estará o caos?

Da surpresa
Quero a glória
Nunca pensei
Que virasse história.

Sem saber como
Domino o impulso.

sábado, 23 de maio de 2009

necessário

Qualquer palavra
Soa idiota
Explicação:
Torta.

Busca de sentido
Pra quê?
Redefinição?
Memória?
Masturbação.

Pular obstáculos
Não olhar para trás
Controlar impulsos.
Parar de pensar.

A água que passa
Nunca é a mesma.
Fingir que esqueceu
O horizonte muda
Nunca aconteceu.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

a vida como ela é

Uma das experiências mais incríveis da vida é dividir a infância com alguém. Ter as mesmas memórias, ainda que sempre outras, conhecer as mesmas brincadeiras, ter chorado pelo mesmo motivo triste. Isso fica ainda mais incrível quando se mora na mesma casa, e os pais são os mesmos (e tão diferentes!). Os irmãos são presentes que a gente recebe. Começam pelo sangue, mas se firmam no coração. Irmãos riem com a gente (e da gente). E quando preciso, confortam, depois de uma noite de baile, com bebida em excesso e batida de carro. Não te apontam o dedo. Apenas te afagam a cabeça, até que o álcool evapore. Irmãos te pedem socorro sem vergonha, mesmo que no dia anterior tenham te ofendido na carne. E irmãos têm filhos. Que a gente ama sem reservas, pois fazem parte da gente. São os passos da memória, olhando pra frente.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

amor abacate

Lendo Carpinejar
Li que o amor
É como abacate:
A fruta que amadurece
Fora do pé.

O amor nasce no desamor.
Pois é esse desapego
Que eu quero no amor.

Sorver cada imperfeição
Como um novo sabor.

Não rir do deslize
Certeiro como a dúvida
Que há de brotar
Por amar com defeitos
E não reclamar.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

em trânsito

Ando no trânsito
Antevejo a batida
Não reduzo o passo
Sigo a corrida.

Ignoro os sinais
Preciso andar.
Pra frente?

O retrovisor não aponta
O caminho de volta.

Às vezes esqueço
A chave
E a porta.

Quero é chegar
Ainda não sei bem aonde.
Mapa não há.
O caminho inclui
Alguns desvios.